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Acervo de Francisco Mignone é doado à USP

São cerca de 3,5 mil documentos que, ao lado dos acervos de Mário de Andrade e Camargo Guarnieri, compõem um rico painel da cena musical brasileira

Por Agencia Estado
Atualização:

Estão em poder do Instituto de Estudos Brasileiros da USP (IEB) 3.500 documentos que, como peças de um gigantesco quebra-cabeça, podem ajudar a compor um painel de um momento bastante especial da vida musical paulista e brasileira, na primeira metade do século 20. Trata-se do acervo pessoal do compositor paulista Francisco Mignone, morto em 1986, recém-doado ao instituto por sua viúva, d. Maria Josephina. "Já tínhamos em nosso poder os acervos de Mário de Andrade e de Camargo Guarnieri", conta Flávia Toni, pesquisadora e curadora da área de música do IEB. "Agora, com o acervo do maestro Mignone, podemos preencher algumas lacunas, resolvendo dúvidas e completando informações sobre o mundo musical paulistano." Isso porque a importância de Mário de Andrade, Camargo Guarnieri e Mignone no contexto da música brasileira está no fato, segundo Flávia, de que os três, ao lado de outros autores, "propunham um constante diálogo sobre o conceito da produção musical brasileira, a idéia da música engajada, por exemplo, e documentavam a atividade e a efervescência da época, em especial no eixo Rio-São Paulo". "Villa-Lobos, na mesma época, produzia suas obras, mas estava, de certo modo, fechado a um diálogo sobre o ofício de fazer música", lembra a pesquisadora. Entre os documentos que estão no IEB, Flávia ressalta a importância, por exemplo, das cartas trocadas por Mignone e Guarnieri, assim como a correspondência entre o maestro e Mário de Andrade. "Nelas, Mignone faz comentários acerca da vida musical da época, os artistas, os compositores", diz. Há também os diplomas de conclusão de cursos de Mignone no Conservatório Musical e Dramático de São Paulo, onde estudou com Mário de Andrade. "Já sabíamos que os dois haviam estudado juntos, mas não havíamos encontrado o diploma de Mário de Andrade. Agora, podemos apontar exatamente os cursos feitos pelos dois." Detalhes, sim, mas bastante importantes para estudar a formação musical de duas importantes personalidades da história da música no País. Flávia chama a atenção, também, para a presença dos primeiros livros de recorte de Mignone sobre a programação musical de São Paulo na década de 20. "Isso ajuda a recuperar a vida musical da cidade antes dos anos 30, que foi quando Mário de Andrade passou a fazer um levantamento sistemático a respeito do tema." A viúva de Mignone resolveu doar ao IEB o acervo que preservava cuidadosamente em sua casa após um encontro com Flávia e Vera Sílvia Guarnieri, última mulher de Camargo Guarnieri, que acabara de fazer a doação de seu material - aproximadamente 30 mil documentos - ao instituto. "Conversamos e ela resolveu que seria uma boa idéia colocar o acervo à disposição ao lado dos de Mário de Andrade e Guarnieri." Isso foi no início de 2000, no Rio. Desde então, explica Flávia, o processo de doação passou por todas as etapas legais. "Só agora estamos tendo acesso ao material, mas a catalogação mais detalhada deve demorar ainda um pouco, pois precisamos ainda terminar o trabalho com o acervo do Guarnieri. É um processo delicado, não queremos apenas manter os documentos, mas torná-los parte de um contexto específico. Além disso, a pressa pode fazer com que detalhes importantes se percam." Flávia trabalha com a ajuda de apenas três estagiários.

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