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Acari aposta no choro para estrear no mercado

Criada com o objetivo de divulgar a música instrumental brasileira, nova gravadora solta seus três primeiros álbuns: Leonardo Miranda toca Joaquim Callado, Luciana Rabello e Álvaro Carrilho

Por Agencia Estado
Atualização:

Os amantes de choro têm três novas boas opções de compra. A gravadora carioca Acari Records, criada ano passado com o objetivo de divulgar a música instrumental genuinamente brasileira, colocou seus três primeiros lançamentos no mercado. Leonardo Miranda toca Joaquim Callado, Luciana Rabello e Álvaro Carrilho são os títulos, que bem delimitam o intuito dos diretores da Acari: lançar novos compositores e trazer à tona o trabalho dos grandes mestres do gênero, aqueles que, em função do descaso e da falta de memória, foram esquecidos pelo público. À frente deste projeto está Luciana Rabello, excelente cavaquinista e diretora da gravadora. Neste primeiro malote, Luciana reúne pela primeira vez as músicas que compôs nestes seus 25 anos de carreira. O disco conta com a participação de Mauricio Carrilho, Cristóvão Bastos, João Lyra, Celsinho Silva e Jorginho do Pandeiro. São 12 faixas. Oito são de sua autoria, e quatro, homenagens com que Cristóvão Bastos, Jonas Pereira da Silva, Avena de Castro Sérgio Régis presentearam a compositora. A sofisticação de sua música vem de berço. Luciana é herdeira do Camerata Carioca, conjunto criado pelo mestre Radamés Gnattali na segunda metade dos anos 70. A bem da verdade, Luciana passeia da mesma forma pelo popular e pelo erudito; pela simplicidade e pela sofisticação. Algumas peças do disco foram compostas em parceria com Cristóvão Bastos, Luís Moura e com o irmão Rafael Rabello. Necessário conferir Pitangueira, choro tradicional, espontâneo, ao sabor dos conjuntos regionais, e a belíssima Valsa do Trovador. Garimpo cultural - Joaquim Callado foi um dos primeiros músicos a compor choros. Falecido em 1880 aos 32 anos, mulato, fundiu os gêneros - mazurca, schottisches, polcas e quadrilhas - que animavam os bailes no final do império com o batuque dos negros, que, do lado de fora da festa, também dançavam e cantavam noite afora. Sua música, contudo, fato infelizmente tradicional em se tratando de choro, ficou esquecida durante muito tempo. Agora, depois de pesquisar registros do compositor, o flautista Leonardo Miranda lança Joaquim Callado. São 30 faixas, muitas delas sem registros fonográficos anteriores. Uma trabalho artesanal, de garimpo cultural, que contribui para a recuperação da memória musical do Brasil. Maurício Carrilho, maestro, produtor do disco e diretor musical da Acari Records, ressalta em texto de abertura que a instrumentação usada no CD é idêntica à que Callado usou em sua época, então batizada de "choro carioca": flauta, dois violões e cavaquinho. Essa responsabilidade histórica, aliada ao envolvimento pessoal de Miranda com a obra e a personalidade de Callado e ao fato de o jovem flautista ser um excelente instrumentista, faz do disco um acalanto aos ouvidos. Joaquim Callado, como fica explícito no disco, compôs principalmente polcas, todas com um sabor bem brasileiro. Porém, vale destacar suas quadrilhas. No álbum, Miranda reuniu quatro delas, as suítes Manuelita, Saturnino, Pagodeira e Souzinha. Samba e jazz - Álvaro Carrilho lança também pela primeira vez as suas composições. Chorão por excelência, destes que não desprezam uma boa oportunidade para reunir os amigos no quintal de casa e chorar durante a tarde toda, Álvaro é membro de uma família musical que dispensa apresentações quando o tema é música instrumental brasileira. Pai do maestro Maurício Carrilho e primo de Altamiro, Álvaro não é um purista. Transita pelo gênero com referências de samba, como em Brincando com os netos, e jazz, como em Choro Torto. Em Álvaro Carrilho recebe convidados ilustres. Altamiro Carrilho toca em Tangerina, Chorando em Barcelona, Sentimento Carioca, Marimbondo e Sem Perdão; o clarinetista Paulo Sérgio Santos aparece em Choro Torto e Plangentes Violões, e Joel Nascimento empunha seu bandolim em Sentimento Carioca. O resultado não poderia ser melhor. A espontaneidade reproduz as tardes de choro na casa de Álvaro e brota do alto-falante. Aliás, espontaneidade é o que não falta nestes três lançamentos da Acari.

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