A voz e a viola de Roberto Corrêa, em novo disco

O independente Extremosa-Rosa, o décimo de sua carreira, é um trabalho autoral em que Corrêa assina 10 das 15 faixas e, novidade, ainda canta

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Por Agencia Estado
Atualização:

Autoridade maior em matéria de violas caipiras (ele catalogou os modelos existentes, os modos, os toques diversos ouvidos em partes várias do País, as técnicas de digitação e outros pormenores no livro A Arte de Pontear Viola, 2001), Roberto Corrêa lança novo disco, o independente (selo Viola Corrêa) Extremosa-Rosa, um trabalho autoral em que assina 10 das 15 faixas e, ainda, novidade, canta. Bem. No encarte, Roberto escreve: "Este álbum, de alguma forma, é uma síntese. Sou interiorano. Nasci em Campina Verde, no Triângulo Mineiro, de onde vim para Brasília há muito anos. Sou do cerrado, das serras, dos pastos, das roças, das cobras e dos chapadões. Aqui é o meu lugar, assim é a minha música." A linguagem autoral de Roberto Corrêa, como seu toque, faz mesmo a síntese da formação musical rigorosa com a pureza intuitiva do tocador dos pastos, serras, cerrados. De tal forma que sua dedicação às músicas regionais não o tornam músico regional. Roberto é um erudito do naipe dos eruditos que, como Valdemar Henriques, para ficar num exemplo, debruçaram-se sobre os modos musicais da tradição popular. Extremosa-Rosa é o décimo disco de Roberto Corrêa. Formado em Música e em Física, o violeiro conta, entre seus títulos, dois CDs de voz e viola com Inezita Barroso, e realiza, em parceria com a mulher, Juliana Saenger, um inédito e importantíssimo trabalho de registro da música do entorno do Distrito Federal. "Guimarães Rosa encordoado", como o classifica o crítico Tárik de Souza, Roberto é a grande referência nacional da viola, influência definitiva para que venham surgindo, desde os anos 90, mais e mais jovens e estudiosos violeiros. Embora não faça alarde disso, a cada novo disco Roberto reafirma a soberania no trato do instrumento, em admirável aperfeiçoamento técnico e interpretativo. A faixa-título, que abre o novo disco, é prova suprema, uma composição introduzida por frase em tom menor, lenta, larga, sonhadora, que deriva para um exercício que refaz o ponteio violeiro combinado com pitadas de barroco bachiano. As fotos que ilustram o belo encarte, assinado por Paola Faoro, explicita a intenção de casar contrastes - na página 2, um chapadão (sobre a imagem aplica-se texto de Euclides da Cunha, extraído de Os Sertões) e, na página 3, à direita, o Palácio da Alvorada. Na imagem da água, em tipo maior, a frase que abre o texto euclidiano: "Estiram-se planuras vastas." Assim, depois da abertura ponteio-bachiana vem a toada autoral Boi Tristeza; depois dela, adaptado do cancioneiro popular, o valseado Moreninha, Se Eu te Pedisse, cujos belíssimos versos são bastante conhecidos: "Moreninha, se eu te pedisse/ De modo que ninguém visse/ Um beijo, tu me negavas/ Ou davas? Ou davas?". Aqui, Roberto conta com as participações do rabequeiro Siba (do grupo Mestre Ambrósio) e do contrabaixista Alex Queiroz. No mapa que traça, Roberto não poderia deixar de fora a clássica Viola Quebrada, de Mário de Andrade ("Minha viola gemeu/ Meu coração estremeceu/ Minha viola quebrou/ Teu coração me deixou"), em arranjo para voz, viola e contrabaixo arqueado; Tião Carreiro está presente em Chora Viola, parceria com Lourival dos Santos; Carreirinho comparece com o cuiabano Boi Soberano, que escreveu a seis mãos com Isaltino Gonçalves e Pedro Lopes; e Goiá assina a toada Chapadão, parceria com S. Rocha. Roberto apresenta trabalho com dois parceiros: José Canabrava, em Herança de Acertador; e Hermínio Bello de Carvalho, na Moda Destrambelhada: "Temperei minha viola n´uns olhos de cascavel/ M´embebedei do veneno, m´empanturrei do seu fel/ As cravelhas do meu peito veio alguém destarrachou/ E o veneno dessa cobra no meu sangue desagou." O rabequeiro Siba e o baixista Alex Queiroz mais uma vez enriquecem o arranjo. Não é todo mundo que sabe, mas o tema de abertura do programa Viola, Minha Viola, de Inezita Barroso, há mais de 20 anos no ar, é a música Inezita, de Roberto Corrêa, incluídas no repertório deste CD primoroso, que pode ser comprado diretamente com o músico pelo site www.robertocorrea.com.br e pelo telefone 0--61-445-2646, ou ainda pelo fax (0--61) 445-1764, ao preço de R$ 20,00 o exemplar.

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