A surpresa no especial de Roberto

Rede Globo respeitou conexão entre artista e público e não apelou para a pieguice

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Por Agencia Estado
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O peru de Natal da Globo, ou seja, o especial de Roberto Carlos teve um sabor especial quinta-feira. Afinal, ele, que bate o ponto na emissora há 26 anos, falhou em 99 por causa da morte de sua mulher, Maria Rita. E como na última aparição na TV o cantor escancarou sua dor para o Brasil (que chorou junto com o Rei), era natural que o público estivesse curioso para conferir o estado emocional de seu ídolo. Roberto que sempre se manteve como uma entidade, aparecendo muito de vez em quando na TV, escolhendo shows com toda a parcimônia e fugindo de conversas que não eram de seu interesse, acabou sendo humanizado pela tragédia do câncer da mulher. Aquele homem, intocável e cheio de idiossincrasias, que protegia sua intimidade da devassa, foi desmoronando à vista de todos à medida que a saúde de Maria Rita decaía. Por tudo isso, a volta do cantor à rotina anual seria por si só uma atração e a Globo felizmente percebeu. Portanto, a direção do especial de Roberto Carlos acertou ao não bordar o show com participações dos colegas da Jovem Guarda ou de estrelas da vez, nem forçar na pieguice das homenagens. Houve um respeito à sintonia entre artista e público, que repassaram a trajetória artística e pessoal de RC. Juntos tiveram momentos de felicidade ao som do iê-iê-iê, de sobriedade e de muita emoção, especialmente na hora do Amor sem Limite, que a mídia transformou no hino de amor a Maria Rita. A platéia estelar - formada com o alto escalão das novelas da casa, Ana Maria Braga, a cantora Joana, etc. -, convocada pela Globo para transformar o programa em um happening, fez tudo direitinho. Vibrou, aplaudiu e chorou com Roberto. O pessoal do sofá também deve ter se desmanchado. Afinal, o Rei mantém uma corte fidelíssima que lhe confere a maior longevidade na programação da Globo. De certa maneira, ao sintonizar no especial de cada Natal, o telespectador quer primeiro conferir como o tempo está tratando o ídolo e depois se deliciar recordando os bons tempos de quando ele era Terrível, a fase mística em que subiu à Montanha, a ufanista do Verde Amarelo, a sensual - na qual reverenciou gordinhas, míopes e balzaquianas - e a religiosa (Tu És a Verdade Jesus). Os fãs sabem que, uma vez por ano pela TV, têm chance de averiguar para onde caminha a inspiração do Rei. Pelo jeito, ela está voltando.

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