PUBLICIDADE

A onda contagiante do reggaeton domina as paradas

Estrelas como Jennifer Lopez, Shakira e Wanessa Camargo aderem ao ritmo que injeta dose de sensualidade ao áspero rap Ouça Gasolina (versão wma / rm)  Ouça No Hace Na (versão wma / rm)

Por Agencia Estado
Atualização:

Ritmo moldado nas ruas de Porto Rico, o reggaeton vem da terra dos Menudos. É uma vertente do hip hop que incendeia as pistas latinas, americanas, européias e até japonesas. Surpreende agora, ao sair dos guetos para o topo das paradas americanas - Billboard, Grammy Latino, MTV Awards - e influenciar o maistream - como o último disco da colombiana Shakira, Fijación Oral, reggaeton de ponta da ponta. Na semana passada, foi a vez de Jennifer Lopez voltar às origens, desembarcando em San Juan, capital de Porto Rico, ao lado do rapper Pharell Williams. J.Lo e Pharell gravaram nos estúdios da Luny Tunes, a produtora mais poderosa do reggaeton. Aos poucos, a coisa chega ao Brasil. Gasolina, do rapper Daddy Yankee, é sucesso indiscutível nas rádios e uma das músicas mais baixadas como toque de celular. E a "neta de Francisco" Wanessa Camargo já importou e incorporou o gênero, no seu novo CD, W. Acabam de chegar às lojas três lançamentos da EMI que dão uma boa idéia do que é o reggaeton: Gasolina - 100% Reggaeton, uma coletânea dos maiores sucessos dos rappers porto-riquenhos, The Reggaetony Album, de Tony Touch, um dos mais-mais do ritmo, e Chosen Few - El Documental, um documentário em DVD que conta como tudo começou. Tudo começou, aliás, no final dos anos 80, mais ou menos na mesma época em que, por aqui, Thaíde e DJ Hum lançavam os pilares do movimento hip hop brasileiro, ali na Estação São Bento do Metrô - a associação entre o hip hop brasileiro e o reggaeton, o hip hop porto-riquenho, é inevitável. As raízes do reggaeton estão no Panamá, como invenção do rapper El General. Era o "spanish reggae". O reggae cantado em espanhol fez um certo sucesso e logo foi importado por um clube de Porto Rico, o The Noise. Lá, aspirantes a rapper improvisavam em cima dos discos de reggae vindos do Panamá, sob a batuta da trinca de DJs do reggaeton - DJ Nelson, Mr Goldy e DJ Playero. Foram aqueles garotos que aperfeiçoaram o ritmo e o levaram ao sucesso, se tornando as estrelas de hoje - como Daddy Yankee, Tony Touch, Tempo, Vico C. A mensagem das ruas é a mesma - a luta de classes pós-moderna, a pobreza nas esquinas, o convívio com as drogas, bandidagem, a vida na periferia, o sexo -, só muda a base. E é justamente a base do reggaeton que chama a atenção e faz do ritmo algo de fato contagiante. Os caras pegaram o sex appeal do próprio dancehall jamaicano e misturaram à pegada latina, principalmente a salsa. A base suaviza os vocais nervosos dos rappers, que cantam num inacreditável splanglish. Dito isso, não é difícil de imaginar como são os bailes: praticamente iguais aos bailes funk do Rio. Muita popozuda, muita calça jeans de cintura baixa. Os artistas, que parecem ter deixado a inocência e caído de vez no showbizz, dão o que o povo quer - são muitas as letras de duplo sentido. O documentário Chosen Few, que reconstrói a história dos ex-garotos pobres de San Juan, levanta a polêmica sobre a associação entre o reggaeton e o sexo. Rappers e produtores dão de ombros. "Quando você é pobre, a única coisa que te faz feliz, de graça, é o sexo. O que mais se pode fazer sem gastar dinheiro?", questiona o produtor Luny Tunes. Críticas à parte, os rappers porto-riquenhos, agora estabelecidos como astros pop e com contratos com as maiores gravadoras do mundo, acreditam que o reggaeton amplifica a voz do povo latino. O alvo aí é a indústria cultural americana que eles pretendem - sonham? - tomar de assalto. "O que está acontecendo agora conosco é o mesmo que aconteceu com o hip hop no seu início", diz Daddy Yankee. "É só o começo."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.