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A nova onda do rap nacional

Por Agencia Estado
Atualização:

Com irreverência, agressividade e ousadia, os rappers brasileiros pouco a pouco vão conquistando mais espaço. Primeiro com Thaide e DJ Hum, depois Racionais MC, DMN e agora Xis. Com uma linguagem própria e muitos "demônios" para exorcizar, Xis, 21 anos, solta o verbo em seu primeiro CD solo, Seja Como For (Trama), que já tem até um hit: Us Mano e as Mina, um rap bem suingado que levou a música da periferia para as pistas de dança da moda. "Quero mostrar o lado bom da periferia. É por isso que o clipe de Us Manos e as Minas (vencedor do Melhor Videoclipe de Rap pela MTV) mostra a galera dando rolê no final de semana, se divertindo, quero tentar mudar a mentalidade da violência enraizada na nossa cultura", diz. Na verdade, Seja Como For tinha sido lançado em 1999, pela gravadora independente 4P, que rapidamente sumiu das prateleiras. Agora, relançado pela Trama, o CD já vendeu 25 mil cópias em dois meses, um número expressivo para um estilo tão segmentado. A agressividade cultural começa pela capa, que traz Xis apontando uma pistola para você. "Queria discutir a violência com o público, discutir por que os manos estão pegando cadeia para cumprir 20 anos e morrendo cada vez mais cedo, por que a periferia está cheia de armas. Os caras querem carro novo, namorada e pra isso precisam da nossa grana suada. Achava que fazendo uma capa assim conseguiria discutir isso na periferia, mas lá ninguém comentou, só as classes A e B é que comentaram. Todo mundo fica em pânico quando alguém aponta uma arma para sua cabeça, o Xis fica também", explica. Igualdade Xis argumenta que tem a solução para a violência urbana: "É fazer uma melhor distribuição de renda, dar mais oportunidade de trampo, mais lazer, porque sem isso a galera só pensa em maldade arma e droga. Não adianta ficar blindando carro, colocando grades, a violência está chegando até dentro dos aviões". Em Seja como For, Xis pede que as empresas dêem mais empregos para os jovens da periferia. "Mas isso não é obrigação das empresas, dos jogadores de futebol, dos artistas. Quem tem de cuidar da parte social são as pessoas que a gente elege. Pagamos impostos pra isso." Para os fãs do rap, as 12 faixas do CD vão agradar bastante. Para quem tem ouvidos mais treinados, o problema é "engolir" a quantidade de erros de concordância e de português, e a pobreza de arranjos que são características básicas deste estilo de repente moderno. Por outro lado, Xis canta o dialeto da periferia como ninguém, sem nenhuma maquiagem, o que é muito interessante, considerando-se o lado cultural. De todas as faixas, Xis assume que a pior é justamente Us Mano e as Mina . "O pior é que vou ter de cantá-la a vida inteira. Não quero que minha carreira fique resumida a isso", espera. Vou votar na Marta Xis não faz mistérios em quem vai votar nas próximas eleições para prefeito: "Vou votar na Marta (Suplicy, candidata a prefeitura de São Paulo), tenho pavor do Maluf (Paulo Maluf) voltar, tenho calafrios só de pensar nisso. Era moleque na época da ditadura, mas sei que vivemos na direita do PFL até hoje. Não mudou nada. Continuamos com o mesmo carro mil e sempre somos os favoritos na Copa. Não dá para entender. E a letra de Bem Pior (ver link) fala bem disso aí, fala dos meninos que estão no farol agora. O FHC está há quanto tempo no poder? Dez anos? Qual a idade média das crianças na rua? Dez anos? Ele é pai de todos estes moleques que estão na rua." A música está mudando a vida de Xis. "Não sei o que vai rolar. Meu pai trabalhou carregando lixo 25 anos, ele não teve muita oportunidade de estudar, mas sempre foi muito correto, e minha mãe era empregada doméstica. E hoje posso dar algo melhor para eles. Ela merece uns dias de patroa". Ele lembra que sua mãe chegou a ser empregada da mãe da atriz Carolina Ferraz. "Foi a mãe dela que me arranjou o primeiro emprego." Nascido e criado na Cohab Itaquera, Xis gravou pela primeira vez na coletânea Consciência Black Vol. 2, em 1992. Dois anos depois, já no grupo DMN, lançou o álbum Cada Vez Mais Preto. Em 1997, sua música Da Esquina vendeu 8 mil cópias como single. E o nome Xis, de onde surgiu? "Uma amiga me disse que era muito chato, então comecei a dizer que me chamava X-ato, dizia que era ato de atitude, e quando saí do DMN, tirei o ato. Talvez fale demais, brinque demais, irrite demais as pessoas".

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