A nova invasão black

Músicos, público, promoters, casas noturnas e gravadoras renovam interesse pela black music e ampliam horizontes do gênero nos centro urbanos do País, conforme reportam Rodrigo Savazoni, de SP, Luciane Chame e Fausto Oliveira, do Rio, e Alessandra Ferreira, de BH

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Por Agencia Estado
Atualização:

Black music, música black, urban music, música urbana, não importa o rótulo. O fato é que a música dançante, swingada, com influência de gêneros afro-americanos como funk, soul e hip hop, invadiu as casas noturnas de São Paulo. Na mesma tendência, uma série de novos artistas de indiscutível qualidade, como Funk como Le Gusta, Wilson Simoninha, Max de Castro e Renato Jaw, para citar alguns, lançaram seus álbuns de estréia nos últimos meses. Músicos, público, promotors, casas noturnas e gravadoras (a Trama principalmente), mesmo que indiretamente, se uniram para arquitetar o renascimento da música black em São Paulo. Uma moda que remonta aos anos 70, do samba rock, das festas na periferia que reuniam quase 20 mil pessoas, do som de Jorge Benjor, Wilson Simonal, Tim Maia, Gérson King, Cassiano, entre outros. O entusiasmo é tamanho que, cada vez mais, já se ouve falar em uma nova cena de MPB paulistana. A dificuldade de definir, afinal, qual o termo correto para nomear essa nova onda cultural tem fundamento no próprio movimento. Todos os compositores reúnem elementos em comum, mas prevalecem suas particularidades. Da mesma forma, as casas noturnas que abrem espaço para o "estilo", sejam elas conhecidas do grande público ou não, têm programações completamente diferentes sob o rótulo black. Wilson Simoninha, intérprete, cantor, compositor e diretor artístico da gravadora Trama, cujo catálogo agrega os principais artistas da nova geração de músicos paulistanos, prefere urban music a black music: "Os americanos usam isso de forma a dar ao rótulo uma conotação menos racista", explica. Max de Castro, cantor e compositor que acaba de lançar seu primeiro álbum, Samba Raro, não simpatiza com o termo. "Não me diz nada", explica. Não há consenso. Sobretudo porque as influências são inúmeras. Dos bailes de charme nas periferias cariocas ao soul brasileiríssimo de Cláudio Zoli, diversos ritmos e gêneros se misturam. "Temos vários segmentos, cada um com sua própria identidade", comenta Zoli. "O rótulo só é legal porque coloca as coisas de uma maneira mais clara para a mídia. Porém, o que fica, muitas vezes, não é o som de qualidade, mas aquelas poucas músicas que tocam nas rádios", comenta. Para resolver o assunto, Max de Castro, Simoninha e Zoli são taxativos ao afirmar: "Fazemos soul, música de alma brasileira". Yes, nós temos MBB -"Falar de Black Music no Brasil é diferente do que nos Estados Unidos ou na Europa. Aqui, temos o samba, o reggae e o axé, que apesar da máscara pop, remete aos blocos afro de Salvador. Por isso a chamo de MBB (Música Black Brasileira)", propõe o promoter Dony Dancer. Há mais de 20 anos promovendo festas black em São Paulo, Dony foi o idealizador da BlackLeone, às segundas-feiras no Brancaleone, e atualmente dirige a Broom!, às segundas no Dolores Dolores, ambas as casas na Vila Madalena. Do circuito comercial de São Paulo, a Broom! é um dos maiores sucessos de público. Quem comanda as pick-ups é o veterano DJ Grand Master Ney, o mesmo do Barraco, no Itaim, às quartas-feiras, e do Blen Blen Brasil, aos sábados. Além do som mecânico, a festa conta com apresentação de bandas do gênero, exposição de livros, fotos e vídeos. No Blen Blen, palco da Vila Madalena que projetou os principais artistas desta nova moda, a festa black invade as noites de sábado. Durante a semana, nos shows promovidos pela casa, é comum a presença de Wilson Simoninha, Max de Castro, Cláudio Zoli, Pedro Camargo, Paula Lima, Funk como Le Gusta, Renato Jaw, Luciana Mello, Daniel Carlomagno, Jairzinho Oliveira e de bandas mais novas, que ainda não tiveram seus álbuns lançados, como Zomba, Mama Soul, Funkacid, entre outras. Não há nada melhor na black music paulistana. No Brancaleone, o som fica por conta do DJ Hum (parceiro de Thaíde), um dos mais respeitados rappers da cena hip hop brasileira. No Dolores Dolores, no baile batizado de Quintacid, a mesa de som é comandada pelo DJ Betão, trazendo o black produzido em toda a América Latina. Fora do circuito das grandes casas noturnas, há outras boas opções. Max de Castro sugere o Clube da Cidade, na Bela Vista, às terças-feiras. "O ponto alto são as músicas nacionais", diz. "É muito bom saber que as pessoas se divertem mais com o som brasileiro". Aos domingos, é dia de freqüentar o Grazie a Dio, na rua Girassol, Vila Madalena. Marky, um dos maiores DJ´s de drum ´n´ bass do mundo, costuma "dar som" na Lov.e às quinta-feiras. Em suas apresentações, é freqüente a participação de renomados DJ´s britânicos. Quando isso ocorre, Max procura dar uma espiada. "Estou sempre saindo para saber o que está acontecendo na cidade."

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