A música black com Gerson King Combo

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Por Agencia Estado
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Na madrugada de segunda-feira, dia 23, no encerramento do Free Jazz Festival 2000, no Joquéi Clube, a melhor surpresa: uma canja de Gerson King Combo, no espaço gratuito do Free Village. Quem? Uma das figuras mais importantes da black music brasileira, que, além de ter levado para os bailes de soul as melhores influências de James Brown, gritou em meio à repressão da ditadura que o negro é lindo. "Me imagina falando isso num baile, no pé do morro, para 5 mil negros e negras, nos anos 70, bem vestido e usando cabeleira black power", diz King Combo em entrevista no bairro de Bangu, no Rio, que é um dos focos da black music carioca. "Depois disso, negro passou a parar de esticar seu cabelo, sentir-se bonito, era só o que eu queria na época. E dançar. Não tinha a intenção de radicalizar." Ele está na cidade gravando um CD, após 22 anos de pausa, e para participar de alguns shows, como o de hoje, no Sesc Pompéia, e no dia 11, no programa Musikaos, da TV Cultura. King Combo, de certa forma, antecipou características da ideologia hip-hop de buscar a auto-estima do afrodescendente. Não era tão declarado, mas por meio dos gestos, da vestimenta e da música mandava essa mensagem, que fez muitos jovens sentirem-se valorizados, principalmente dentro dos bailes. Apesar desse hiato, que praticamente apaga a história de um dos ícones da black music brasileira, ao lado de Cassiano e Banda Black Rio, o tempo não corrompeu a força de King Combo. Quando sobe ao palco, não tem pra ninguém. O seu vozeirão cantando Mandamentos Black, Esse É Nosso Black Brother, Good By, Funk Brother Soul fascina os que fazem ou têm ligação com o soul, rap, hip-hop e funk. Além do mais, tem o jeito de dançar semelhante ao de James Brown, na sua melhor fase. No Free Jazz, ele causou esse furor, cantando apenas três músicas dos seus discos de 1977 e 1978, que são jóias fora do País. Aqui, quase não se encontra. É para colecionadores. Em São Paulo, além de dar algumas canjas em shows, como ocorre hoje com o grupo Funk como Le Gusta, no Sesc Pompéia, King Combo está gravando o primeiro CD, após 22 anos. O disco, por enquanto, chama-se A Nata do Soul e terá cinco remixes de clássicos - que ótimo, já que a dona dos fonogramas, hoje Universal Music, não relança os antigos LPs - e seis inéditas. O álbum será lançado pelo selo alternativo paulistano União de Idéias, que grava o grupo de rap Realidade Urbana e distribui os disco do GOG e DMN. Esse trabalho também deve ganhar uma edição especial no formato de vinil, para os DJs. King Combo não pensava em voltar. No entanto, por insistência de um fã, Ademar Matias da Silva, o Dema, que hoje é seu DJ e empresário, ele repensou. Felizmente, cedeu. Dema reúne nas noites de sábado até 400 pessoas nos bailes de soul, em Bangu. Ele tem levado o ídolo para fazer alguns shows. Mas a sua volta deve-se também ao intercâmbio com o hip-hop carioca. Por meio da festa Zoeira Hip Hop Carioca, que ocorrre no centro do Rio, ele começou a ser novamente reconhecido. Em dezembro, ele fará um show no Rio com convidados especiais já com músicas inéditas. Funk como Le Gusta - Participação de Gerson King Combo. Hoje, às 21h30. De R$ 6,00 a R$ 12,00. Choperia do Sesc Pompéia. Rua Clélia, 93, zona oeste, tel. 3871-7700.

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