A histórica Orquestra Tabajara, com 73 anos de estrada

DVD resgata em documentário a hitória do conjunto liderado por Severino Araújo

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Por Agencia Estado
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A Orquestra Tabajara é o que podemos chamar de patrimônio brasileiro. Afinal, ela alcançou um feito único: enquanto outras orquestras contemporâneas foram se desfazendo com o passar dos tempos, a Tabajara completou 73 anos ininterruptos de música. Muito do segredo dessa longevidade recai sobre o maestro, compositor e exímio clarinetista Severino Araújo, que aos 89 anos ainda é o ponto de sustentação da orquestra. Severino a assumiu em 1938, a pedido de Olegário de Luna, que havia fundado no ano de 33, em João Pessoa, na Paraíba, a então Jazz Tabajara. Foi quando começou a trazer os irmãos. Atualmente, o maestro e seus irmãos Plínio e Jaime formam o trio remanescente daquele início do conjunto e relembram as boas histórias no DVD Orquestra Tabajara - ao Vivo (Indie Records), que reúne um documentário e um show inédito gravado no auditório da Rádio Nacional do Rio, no ano passado. O projeto é dedicado à memória dos outros dois Araújos. Nascidos em Pernambuco, os cinco irmãos se mudaram para Ingá, interior paraibano, ainda crianças e cresceram numa casa onde se respirava música. ?Nosso pai era mestre de banda e a sede dela funcionava lá em casa?, recorda-se Jaime, saxofonista de 82 anos. ?Em vez de ter bicicleta, a gente tinha trombones e trompetes.? Em depoimento ao documentário, Severino conta: ?Comecei bem no clarinete e, em 29, fiz carnaval puxando o frevo na rua, de clarinete.? Logo a banda ficou famosa. Orquestra oficial da Rádio Tupi Mais tarde, já na Orquestra Tabajara, Severino e seus músicos impressionavam os cantores que iam ao Nordeste e eram acompanhados por eles. Graças a esses cantores, a fama da Tabajara foi parar no Rio e também nos ouvidos de Assis Chateaubriand, diretor da Rádio Tupi. Ele a queria como orquestra oficial de sua rádio. Severino partiu primeiro para o Rio, de avião, e depois de tudo acertado, chamou os irmãos. ?Fomos de navio em plena guerra, não podia nem acender um fósforo?, diz o saxofonista. Mas, àquela altura, para um artista, valiam todos os esforços para se ter uma oportunidade o Rio, então capital e centro cultural do País. A orquestra estreou na Tupi no dia 20 de janeiro de 1945, onde ficaria por dez anos e se tornaria xodó de Chateaubriand. Foi no programa A Noite do Frevo, com as presenças de Chateaubriand e outras ilustres figuras. ?Foi um sucesso lascado?, diz Severino, no DVD. Tão grande que o público que estava do lado de fora da rádio ameaçava invadir o estúdio. O maestro solucionou a questão: ele e seus músicos desceram e fizeram um frevo na rua, para delírio do povo. Jamelão era o crooner Severino ficou famoso por esse seu lado de liderança. Segundo Jaime, quando a Orquestra Tabajara estava prestes a partir para Paris, em caravana com outros artistas da Tupi, em 1952, sugeriram substituir o então crooner Jamelão por outro cantor. ?Lúcio Alves estava na moda e o pessoal queria levá-lo como crooner?, lembra Jaime. Severino bateu o pé: ou Jamelão acompanhava a orquestra ou eles não viajariam. Obviamente, Jamelão foi junto. Em tantos anos, a Tabajara fez poucas apresentações no exterior. Tem passagens por Portugal e Buenos Aires, mas já rodou todo o Brasil. Severino confessa que foi inspirado pelas big bands americanas, mas fez questão de criar uma identidade própria para a Tabajara, na qual o repertório brasileiro instrumental sempre recebeu mesmo peso e importância que os velhos standards. O trio Araújo orgulha-se: muitos romances foram embalados por eles, assim como muitos cantores importantes, como Francisco Alves, Aracy de Almeida e Orlando Silva, tiveram o seu acompanhamento. Sem esquecer do encontro com a lendária big band de Tommy Dorsey, em 51. A Tabajara continua na ativa. Deve estar na quarta geração, arrisca Jaime. Faz menos shows do que nos tempos áureos, mas ainda é solicitada. Para Severino, enquanto o público quiser ouvir, a Orquestra Tabajara continuará viva.

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