A grande noite de Roberto Carlos no Pacaembu

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Foi bonito de ver. Arquibancadas do Estádio do Pacaembu lotadas, som e luz impecáveis, banda afinadíssima, um coro de 35 mil pessoas acompanhando o ídolo com quase tudo na ponta da língua. Excitação e emoções no ar, lágrimas nos olhos, sorrisos de satisfação - antes, durante, depois - compartilhados por gente de todo tipo: o apresentador da MTV Max Fivelinha, o poderoso empresário Antonio Ermírio de Moraes, jovens bacaninhas, empregadas domésticas, ricaços barrigudos, crianças, doces velhinhas. Até o tempo foi generoso sábado à noite. Tudo para que o show Pra Sempre, de Roberto Carlos, em alto astral e de ótimo humor, fosse realmente, como tinha antecipado o maestro Eduardo Lages, o melhor dele em muitos anos. Não que fosse demasiado diferente dos demais. O esmero técnico é o de sempre, incomparável, e o preparo para gravar o show em DVD (a ser lançado em dezembro) talvez tenha exigido ainda mais cuidado. O fato de ter sido o primeiro show do cantor num estádio paulistano é irrelevante: ele já bateu recorde de público no Parque do Ibirapuera, cantando para um público cinco vezes maior. Mas a situação deste Roberto de agora é especial. Não apenas porque já não se pauta tanto pela tristeza de ter perdido Maria Rita - lembrada em Acróstico e na canção-título do show, que ele mais uma vez dedicou a ela -, mas parecia haver uma força maior naquela voz tamanha a acelerar os corações, como os carros que ele canta em vários sucessos. O habitual medley instrumental que abre seus shows, seguido de Emoções, desta vez ganhou o breve adendo de versos de Pra Sempre. "Por séculos, milênios, dimensões, qualquer lugar, somos um do outro e assim sempre será" traduz a comunhão de Roberto com a galera fiel que grita "Hei, hei, hei, Roberto é nosso rei" e cria uma cadeia de belos efeitos entoando os versos de Como É Grande o meu Amor por Você e Detalhes. Até o mais incrédulo se deixaria arrebatar por Outra Vez, quando ele diz: "Em meu momento atual não gostaria de cantar essa canção. Há muito tempo não canto. Ela é triste e fala coisas que não gostaria de dizer hoje, mas sei que vocês gostam muito dela, por isso vou cantar". E faz o Pacaembu desabar já na introdução: "Você foi..." Repertório dos melhores, teve os momentos de pico no bloco dançante. Roberto o abriu, irônico, com uma ótima versão de Ilegal, Imoral ou Engorda. Inédita em seus shows, veio melhor que a gravação original, em levada funk, com efeitos de wah wah na guitarra e o naipe de metais em alta. Emendou com outra de suas letras rebeldes, É Proibido Fumar, rockão que teve outra jovem-guardista na seqüência, o country-iê-iê-iê O Calhambeque. Para encerrar, a recente Cadillac, uma espécie de atualização da anterior, que teve até uma réplica inflável do carro no palco - o vermelho vivo quebrando a monotonia bicromática de cenário azul e terno branco. O rock voltaria a dar as caras, pomposo, na segunda parte do baladão Cavalgada, ponto alto do bloco de apelo sensual. Roberto enfiou cacos na bluesy Força Estranha e na suingada É Preciso Saber Viver, fez piada com os músicos da ótima banda, alguns dos quais estão com ele desde a época da Jovem Guarda. De religião, apenas o clássico soul-pop Jesus Cristo, no longo final, coberto de rosas beijadas e arremessadas à tietagem na despedida. Tudo igual, mas nada mal. Só ele mesmo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.