"A Funk Odissey" é brincadeira sonora do Jamiroquai

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Por Agencia Estado
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O nome do CD já diz tudo: A Funk Odissey (lançamento Sony Music). Uma farra para DJs em geral, festas em particular e combustível inflamável - oops, palavra perigosa... - para o dial do rádio dos carros. É a nova brincadeira sonora do Jamiroquai que, se não chega a ser o novo alimento espiritual da música funk (como eles foram tidos em 1999, quando lançaram o festejado Synkronized), também não é le fin du chemin para os coquetéis rítmicos da pós-modernidade. Sempre obcecado por Stevie Wonder e pela cozinha sonora do Earth, Wind and Fire, o Jamiroquai veio ao Free Jazz, anos atrás, como a pedra de toque da nova música de suingue do planeta. Não era, mas o fato de ser superestimado (chegou a vender 16 milhões de discos) levou também o conceito de Jay Kay a ser subestimado logo a seguir. Com A Funk Odissey, seu quinto disco, ele fundiu a old school do funk com o melhor do rock eletrônico, com guitar licks de grande apelo, e - sem almejar qualquer originalidade, mas reivindicando humor e energia - construiu sua nova festa. É possível encontrar restos de tudo que conhecemos, do tema de Shaft (em Main Vein, faixa que conta com os vocais convidados de Beverly Knight) aos melhores scats de Afrika Bambaataa. O homem do chapéu de búfalo divide a produção com The Pope, fera dos estúdios, no disco todo. Tem participações decisivas nos arranjos, como em Corner of the Earth, que recebe a orquestração de Simon Hale. Jason Kay só dá crédito de um sample em seu disco: Get Up, de Vernon Burch. O restante é refrão mastigado pela sua cabeça cheia de chapéus e perdida na multidão de "olhos de cristal líquido", como ele diz na letra de Twenty Zero One. Nenhum pecado aí, já que a esquizofrenia é mesmo uma das marcas da nossa época. O novo álbum do Jamiroquai chega mesmo a superar Return of the Space Cowboy, bom disco de 1995. É mais solto, menos pretensioso e arrogante. Mais P-Funk que Parliament, menos disco music e mais Isaacs Hayes. Nascido em Manchester, em 1969, Kay é filho de uma cantora de boate, Karen - o pai é um português, que ele não conheceu. Cresceu seguindo a mãe em turnê. Em 1991, ele recrutou seus partners, constituindo um conceito de big band para seu ideário estradeiro, com dez músicos em média no grupo. Jason Kay, agora com 30 anos, parece ter se libertado do tédio precoce que demonstrava publicamente com suas Ferraris e a mansão brega na Inglaterra, que pertenceu ao arcebispo de Canterbury. Também se ateve menos ao exotismo fácil, com os didgeridoos e todas as aculturações, e focou o ouvido na black music. A Funk Odissey é pastiche? É, mas é do bom. A Funk Odissey. Novo CD do grupo inglês Jamiroquai. Sony Music. Preço médio do CD: R$ 25,00

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