A explosão Yamandú agora em disco ao vivo

Clique aqui para ouvir um trecho de Uma Valsa e Dois Amores

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Por Agencia Estado
Atualização:

Yamandú Costa é uma explosão de música. Um daqueles raros artistas que de fato merecem o qualificativo de visceral. Quem o vê, tem a impressão de que o corpo todo é tão importante para a música que faz quanto o são os dez dedos das mãos. Os pés não param. Ele pula na cadeira, sacode com fúria o cabelo comprido, faz caretas, ri ? às vezes, mais que sorriso, sonoramente. Não há jogo de cena nessa irriquietude ? é assim que ele sabe tocar. As platéias agregam-se ao transe. Problema: como passar essa mágica, essa urgência, para o frio platinado do disco? A música vai lá, mas e o músico, a figura condutora, o criador dono de tão imenso magnetismo? Um disco ao vivo pode ser a resposta. E o segundo CD solo do jovem gênio gaúcho chama-se Yamandú ao Vivo. Foi gravado nos dias 29 e 30 de setembro, no Teatro Crowne Plaza, para platéia de convidados. Yamandú lidera um trio formado por instrumentistas de personalidade semelhante à sua, exuberantes, técnicos, emocionados: Thiago do Espírito Santo, contrabaixista, filho do grande Arismar do Espírito Santo, e Edu Ribeiro, talvez o mais talentoso dos bateristas da nova geração paulistana. Os arranjos são dele, Yamandú, e o repertório vai de Dilermando Reis e Radamés Gnattali a Django Reinhardt, o cigano que foi um dos inventores do violão de jazz moderno, e, claro, Baden Powell, mestre de todos os mestres do instrumento. Aos 23 anos, Yamandú é considerado um dos grandes virtuoses do violão contemporâneo. Cabe relativizar. De Guinga à leva de novos violonistas surgidos nos anos 90, quase todos oriundos dos clubes e grupos de choro, podem até haver músicos tecnicamente mais perfeitos. Yamandú, no entanto, tem aquela pujança mencionada no início do texto, a força de quem executa cada canção como se fosse a última antes do fim dos tempos. Filho de músicos, começou carreira ainda menino e gravou com o pai; fez um disco a duas mãos com um mestre argentino e estreou em solo há dois anos, logo após ganhar a segunda edição instrumental do Prêmio Visa de MPB, em 2001. Aquele primeiro solo teve direção musical e produção do violonista Maurício Carrilho. Grande músico e estudioso do choro, linguagem por excelência de Yamandú, o carioca Maurício podou alguns excessos, de resto naturais, do novato. Yamandú lhe é grato. O cuidado de Maurício foi manter o arroubo dentro de certa concepção estética, com o efeito do que se chamará amadurecimento. O preciosismo de Yamandú ao Vivo reflete o acolhimento dos conselhos. Ele abre sozinho a primeira faixa, a Valsa n.º 1, de Baden Powell, em arpejos, em tempo livre; quando entra no tempo quebrado da criação de Baden ? na verdade, a contagem é a seis, não a três, como na valsa convencional ?, entram Thiago e Edu. O baterista trabalha os pratos, o contrabaixista improvisa em sons agudos e harmônicos sobre os floreios e acordes picotados do violonista. Temos uma sessão jazzística, ao estilo da hard bossa contemporânea de Baden, que também a praticou. Há mais um Baden no repertório de 12 faixas (mais uma multimídia, com making of da gravação ao vivo): o samba Vou Deitar e Rolar, que Elis Regina gravou com letra de Paulo César Pinheiro. Entre a valsa e o samba de Baden, está a linda bossa lenta O Bem e o Mal, de Dudu Falcão e Danilo Caymmi, baixo e bateria em pronúncias delicadas. Depois, uma das duas composições de Yamandú (um disco autoral virá algum dia) do repertório, Tareco n.º 1, assinado em parceria com Rogério Souza, sinuosa e linda seresta. Essa ele toca sozinho. Na outra autoral, o veloz e badeniano Samba Meu, chama de novo os músicos. A delicada, desde o título, Nuage, de Django Reinhardt, ganha uma de suas mais belas leituras, na arte do trio. Em solo, Yamandú confere toque percussivo e dá longa introdução jazzística ao choro Sampa, de Caetano Veloso, executado em velocidade estonteante. Como é de dar nó no raciocínio o pulso da Conversa de Botequim, de Noel Rosa e Vadico. Na alternância de atmosferas, o clássico Uma Valsa e Dois Amores, de Dilermando Reis, recupera um romantismo arcano, acentuado pelos glissandos de Thiago e pela vassourinha de Edu. Completam o repertório ? que o trio executará amanhã, em show de lançamento, no Sesc Vila Mariana ? Traquito Militar (Mariano Moraes), Disparada (Théo de Barros e Geraldo Vandré) e Brasiliana n.º 13, de Radamés Gnattali. Yamandú Costa - Sesc Vila Mariana: Rua Pelotas, 141, tel.: 5080-3000. Nesta quinta-feira às 21h. Ingressos entre R$5 e R$15.

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