A destruição da estrutura lógico-dedutiva

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Por Agencia Estado
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Segundo o dicionário Aurélio música de vanguarda é aquela "que expressa a revolução musical do século 20, e através da qual se vem completando a destruição da estrutura lógico-dedutiva da organização musical tradicional, que é substituída por uma nova sintaxe não discursiva, mas analógico-sintética". Porém, como fica complicado entender até mesmo o que Aurélio Buarque de Holanda definiu, é preciso esclarecer o que vem a ser a música eletroacústica. Até porque seria impossível descrever suas características. Também conhecida como música eletrônica, este vertente da composição erudita, tal como se conhece hoje, nasceu no final dos anos 50. "Eletroacústica é um termo genérico, que apesar de existir antes, passa a ser conhecido em 58. Nele está contida toda a música de vanguarda, também chamada de radical, produzida a partir dos anos 50", explica o compositor. Ela segue uma linha evolutiva a partir do atonalismo, do dodecafonismo e dos experimentos de Edgar Varèse, todos na primeira metade deste século. Surge no contexto do pós-guerra, em um momento de quebra com determinados valores individuais típicos da tradição européia racionalista - em baixa após a sucessão de atrocidades cometidas pelos inúmeros governos fascistas que se espalharam pelo continente. Os anos de 1948, das experiências com música concreta de Pierre Shaefer, e de 1949, do surgimento do termo música eletrônica equacionado pelo foneticista e lingüista alemão Wermer Meyer-Eppler, marcam o nascimento do gênero. Porém, como explica Menezes, somente nos anos 50, com a música de Stockhausen, é que pode-se falar em música eletroacústica. "A música eletrônica não é constituída de sons obtidos através de um material posto diretamente em vibração pelo homem (como todos os instrumentos musicais são), mas sim através de impulsos elétricos", explica o músico Ernst Krenek, em artigo chamado O que é e como surge a música eletrônica (Música Eletroacústica - História e Estéticas, org.: Flo Menezes, Edusp, 1996). Já a música concreta surge a partir de variações obtidas de matéria existente na natureza, como sinos, ruídos, fala humana, entre outros. Na música eletroacústica, tanto o eletrônico quanto o concreto são utilizados. A esses elementos, os compositores aliam instrumentos "convencionais", principalmente os percussivos e os presentes nas orquestras. Ao longo deste meio século, a eletroacústica acompanhou o desenvolvimento tecnológico dos meios. Antigamente - como no caso de Kontakte, de Stockhausen - as peças eram gravadas em fitas (tapes). No presente momento, não existe compositor que não aproveite os computadores e gravadores de CD. Nem por isso, os antigos "instrumentos" foram esquecidos. Essa velocidade de aprimoramento dos meios deu origem a um terceiro rótulo: música computacional. "Não gosto deste termo", afirma Menezes. "Para refutá-lo basta dizer que quase toda a música feita hoje utiliza-se do computador e por isso, é computacional". Muitos artistas do gênero, além de compositores de grande talento, foram ótimos físicos. Para por em prática suas idéias, desenvolveram novas técnicas e instrumentos. Essas experimentações tecnológicas foram posteriormente aproveitadas pelas fábricas de instrumentos, eletrodomésticos e computadores. São esses instrumentos, em constante evolução, que são usados por DJ´s e músicos pop contemporâneos quando estes agregam a suas canções elementos oriundos da música eletrônica.

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