A contragosto, Ben Jor faz o seu "Acústico MTV"

Cantor e compositor conta que só gravou CD duplo, que chega sábado às lojas, por insistência da família e amigos. Mas, no final, gostou do resultado

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Por Agencia Estado
Atualização:

Chega no sábado às lojas o disco Acústico Jorge Ben Jor (Universal), um CD duplo que traz 21 canções de um dos mais influentes artistas da música popular brasileira. Para a crítica, o CD representa a volta de Ben Jor ao seu instrumento fundamental, o violão, depois de duas décadas dedicadas à guitarra - e, por extensão, a um jeito percussivo de tocar o violão que fez escola. Para os fãs, é a oportunidade de ver Ben Jor revisitando seus grandes clássicos, como Ponta de Lança Africano, Mas, Que nada, País Tropical, Taj Mahal, Filho Maravilha. Mas, para o próprio artista, foi algo feito inicialmente a contragosto. "O negócio é o seguinte: eu não queria fazer, achava que seria um retrocesso", contou Ben Jor, em entrevista por telefone, na noite de ontem. "Eu gosto de estar na frente, de ser moderno, e já tinha sido acústico no começo da carreira." Mas a família insistiu, a gravadora insistiu, os amigos insistiram, o empresário insistiu e Ben Jor não teve escapatória. No final, ele conta, gostou do resultado. "O meu público quer que eu cante, eu tenho de cantar." Recentemente, você entrou numa lista da revista americana "Rolling Stone" com um dos 50 discos mais "cool" de todos os tempos, o disco "África Brasil" (1976). O que achou daquilo? Jorge Ben Jor - Achei que foi um presente maravilhoso. África Brasil foi um disco que não teve muita repercussão quando saiu aqui. Foi gratificante saber que, em algum lugar, reconheceram a importância dele. Para mim e para a banda daquele disco, o Admiral Jorge V, que está comigo de novo no Acústico. Os críticos da "Rolling Stone" lembram que uma música daquele disco foi plagiada por Rod Stewart. Você sempre foi muito plagiado, e hoje é muito sampleado, o que é uma versão pós-moderna do plágio. O que pensa disso? Eu agradeço sempre aos DJs que usam samplers de minhas músicas. O DJ Marky usou um sampler de Carolina Carol Bela e ficou muito legal. Mas fez com autorização. Gosto quando dão o crédito, é sinal de que gostam da música. Tenho mais dois pedidos, um da Itália, para Ai Ai Caramba, e outro para País Tropical. Você tem alguns dos hits mais tocados no mundo, como "Mas, Que nada" e "País Tropical". Mas seu nome não aparece na lista dos que mais recebem direito autoral. Eu não sei como. Agora mesmo, tenho um pagamento que foi sustado pelo Ecad, tem uma confusão generalizada. É uma situação delicada, a gente tem de saber agir. Tocam muito Mas, Que nada, mas o que vem é uma mixaria. Quando você mudou de nome, de Ben para Ben Jor, foi só por causa da confusão de direitos autorais com o George Benson? Ele tinha uma música chamada Masquerade, e eles confundiam com Mas, Que nada e davam os direitos para ele. Na época, eu também estava para assinar com a Warner, uma multinacional, e foi uma espécie de estratégia de marketing. Por que você mesmo nunca tentou relançar seus discos antigos, que o Charles, dos Titãs, relançou? O master não nos pertence. O que posso fazer é regravar as músicas. Esses discos que a Universal lançou tinham boa qualidade, o som estava bom. Só senti uma coisa: não me chamaram para ouvir, para opinar. Acho ruim isso. Mas eu não só ouvi como comprei para dar para os amigos. Você regravou "Filho Maravilha", feita em homenagem ao jogador Fio Maravilha. Você nunca mais o viu depois que ele o processou e você teve de mudar o nome da música de Fio para Filho? Nunca mais. Ele esteve num show meu lá em São Francisco, nos Estados Unidos. Ele tem uma - como é que chama? - uma pizzaria lá. Na época do processo eu fiquei bem chateado. Era um ídolo meu, foi uma coisa esquisita. Um ano depois que lancei a música, ele vem me processar? Flamenguista de primeira hora, como você vê a atual situação do seu time? Parece até que perdeu a posição de maior torcida para o Corinthians. Não, ainda é a maior torcida. Mas, como o Flamengo estava afastado das finais, até eu votei no Corinthians. Então, boa parte dos que votaram aí são de outros times, é o retrato de um momento. Acho que o Flamengo precisa de um milagre. A fase tá negra. Li hoje no jornal que 400 funcionários estão em pé de guerra para entrar em greve. O presidente tá sumido e o time está fazendo preliminar de Olaria e América. Com o time reserva. Tem até gente fazendo vaquinha para pagar o salário dos funcionários. Mas todos os times do Rio estão assim, não sei o que aconteceu. E a seleção, Jorge? Você bota fé nela? Tenho fé, embora não goste do esquema de jogo. Prefiro um esquema mais bonito, mas sei que hoje todo mundo está nessa do 3-5-2. Já vi esse esquema com o Parreira, mas naquela época tinha o Romário e o Bebeto. Ou é 3-5-2 ou 4-4-2, que também não gosto muito, fica tudo atravancado no meio de campo. Manda um 3-4-3 aí que dá pé, Felipão! Nós temos ponta-esquerda, temos Edílson, temos Denílson, temos os dois Ronaldos. O Ronaldo tá acordando ainda, mas vai chegar lá. Não precisa 5 no meio de campo. É esquema ruim. Vai ter jogo que vamos ganhar no 1 a 0, sofrido. E o Romário? Merece já a aposentadoria? Merecia pelo menos botar para treinar. Tem o negócio do nome. Ele pode não estar nos cascos, mas o baixinho está ali, todo mundo sabe, tem que pôr 2 para marcar, e isso abre os espaços. Voltando à música, você não regravou "Charles, Anjo 45". Essa música adquiriu uma atualidade muito grande, com os traficantes que são padrinhos das favelas. Como foi feita? Fiz sobre um tipo urbano, da Tijuca. A letra causou um auê muito grande, foi censurada. Todo mundo teve de ir para Brasília, para responder sobre a letra. Diziam que era subversiva, mas a gente conseguiu provar que não tinha nada a ver. Até País Tropical foi censurada. Os censores achavam que aquele jeito de cantar as palavras pela metade, Pa-Tropi, era um código subversivo. O seu disco é divulgado como um Acústico, mas seu violão estava plugado. Fiz um acústico com um som diferente. Fizemos uma pesquisa ali e vimos que ninguém ainda tinha tocado com um violão de 12 cordas, com cordas de aço. Foi plugado, mas de uma maneira acústica, com microfones do lado, captando o som. Fiquei com bolha e calo nos dedos, mas na soma total eu gostei do resultado. Acústico MTV Jorge Ben Jor. Lançamento Universal Music. Preço médio do CD duplo: R$ 45. Nas lojas a partir de sábado.

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