Como muitas outras garotas, quando criança, Sarah era bastante tímida. Tinha medo de falar em público e de relacionar-se com outras pessoas. Isso até que a música entrou em sua vida, mostrando que, se falar em público era um tormento, cantar era uma fórmula bastante saudável de relacionar-se com o mundo. Gostou e não parou mais. E o resultado o público de São Paulo e do Rio poderá conferir de perto, este mês. A cantora inglesa Sarah Brightman é a artista convidada da terceira edição do Avon Women in Concert. Nos dias 20 e 23 ela se apresenta, respectivamente, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, e no ATL Hall, no Rio. Acompanhada pela Orquestra Filarmônica de Mulheres dirigida pela experiente maestrina Lígia Amadio, ela interpreta canções de musicais como Cats e O Fantasma da Ópera, de Andrew Lloyd Weber, e de seus dois discos-solo, Time to Say Goodbye e La Luna. Em entrevista, Sarah declarou-se bastante feliz em se apresentar pela segunda vez em São Paulo. "Mandaram-me um vídeo com apresentações no parque e fiquei encantada com a possibilidade de cantar em tal ambiente, ainda mais ao lado de um grupo formado apenas por mulheres." Mistura fina - Ela define o programa de suas apresentações no País como uma grande mistura. "Quero interpretar um pouco daquilo que tem sido a tônica de meu trabalho, como trechos de musicais, árias de ópera e canções de meus dois álbuns." Demonstrando-se preocupada com tudo o que canta, afirma que tem medo de rótulos. "Não gosto de rotular meu estilo, pois minha carreira é bastante longa e, ao longo dela, diversos estilos acabaram convergindo em um repertório amplo, do qual eu gosto bastante." Mas, para ela, o mais importante é ter, por trás de tudo uma razão. "Não basta cantar, é preciso ter um propósito." Como exemplo, ela cita seu último álbum, "La Luna". "Nele eu peguei algo visual, a misteriosa imagem da Lua, e montei um repertório em cima dessa questão." Correria - Sarah falou com a reportagem pelo telefone da Alemanha, em meio à correria imposta por sua agenda. Ela havia chegado, no dia anterior, de uma pequena turnê na qual se apresentou em Tóquio, ao lado de Plácido Domingo, e em Nova York com Andrea Bocelli. "Amanhã volto para Nova York, onde estão filmando um vídeo sobre minha carreira", diz, com tom cansado. Apesar do cansaço, no entanto, a correria não a incomoda. "Você simplesmente procura não pensar nisso e se concentrar no trabalho." E, além do mais, "chega um ponto em que você acaba se acostumando". A atitude positiva explica-se, também, pela sensação de realização. "Dei duro para chegar onde estou e me sinto privilegiada: me vejo, hoje, em um lugar maravilhoso." Sarah começou a cantar bem cedo, ainda na escola. "Percebi que, apesar de ser tímida, tinha uma musicalidade muito grande e que minha voz era o meu maior talento." Apesar de ter a capacidade de "aprender muito rápido", no entanto, ela afirma que nunca se sentiu pressionada e sempre buscou não apressar as coisas. "Tudo aconteceu naturalmente e acredito que a atitude dos meus pais, que me deram liberdade para trabalhar e decidir sobre meu futuro, ajudou bastante." Apesar de conhecida pelo grande público por suas interpretações em musicais da Broadway, em especial de Christine de O Fantasma da Ópera (de Andrew Lloyd Weber, com quem esteve casada até 1991), Sarah iniciou sua carreira em estúdio. "Não fazia concertos, apenas aparecia em gravações; só mais tarde comecei a trabalhar em montagens." Desde então, ela tem mostrado grande versatilidade, aparecendo em peças teatrais, musicais e em concertos nos quais as músicas clássica e popular aparecem juntas em um só universo. Ela ressalta, no entanto, que sua formação foi guiada para o mundo erudito. "Meus estudos foram direcionados para a música clássica, algo que faz parte de minha carreira até hoje." Discussão - Tal visão acaba esbarrando na famosa polêmica que tenta descobrir qual a diferença entre a ópera e o musical. "Os gêneros são muito diferentes, os componentes musicais, assim como o tipo de voz, são diversos: é necessário ter uma técnica específica." A transição pelas duas áreas, no entanto, não é algo que ela condene. "O importante é que você cante da maneira que o compositor pretendia ao escrever a peça." Nesse sentido, ela condena a falta de treino. "Há artistas que cantam sem estudar, o que é muito errado e eu procuro não fazer." Sarah informou que, no ano que vem, começa a gravar seu novo disco. No entanto, prefere não adiantar informações sobre o trabalho. "Quando estou começando a pensar em um novo trabalho, não gosto muito de falar sobre ele, mas posso dizer que, como sempre, irei cantar apenas aquilo que me dá prazer."