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O poder da fala e da escuta

O efeito não verbal, como da imagem do espaço usado em uma reunião, faz parte de um sistema de comunicação que extrapola a linguagem e contribui para o encantamento e o entendimento da mensagem falada

Por Alice Ferraz
Atualização:

Em meses de conversas ao telefone e longos Zooms, a fala se tornou quase a única ferramenta para a comunicação profissional. Finalmente entendi que, na magia do encontro presencial, nossos sentidos ficam despertos e percebo a exata perda de qualidade que essa falta física significa para a comunicação.

O efeito não verbal, como da imagem do espaço usado em uma reunião, do gosto do café servido, dos perfumes do ambiente e das pessoas, além das roupas usadas publicamente, faz parte de um sistema de comunicação que extrapola a linguagem e contribui para o encantamento e o entendimento da mensagem falada.

Ilustração: Juliana Azevedo 

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Durante a última semana, apreensiva em conseguir construir pontes com uso exclusivo da fala, descobri uma enorme falha na aplicação das palavras certas para compreensão de uma equipe que hoje trabalha em home office a maior parte do tempo. Sabemos falar, mas temos imensa dificuldade em nos comunicar de maneira assertiva. Falamos, mas não ouvimos. Reuniões virtuais usam o melhor da tecnologia para nos aproximar, sem o melhor uso da linguagem para nos conectar. Segundo o filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951), “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”. Ampliar a linguagem é necessário para o entendimento do mundo, nosso e do outro.

Sei, por experiência, que mensagens construídas por canais de mídias sociais, formas “instantâneas” de comunicação, nos levam a informações rápidas, que nos fazem ganhar um tempo importante e agilidade necessária. Mas quem constrói seu raciocínio e interações pautado só por essas ferramentas tende a enfraquecer o desenvolvimento de uma linguagem argumentativa com conversas e troca de ideias.

Fica clara em nossas conversas em grupos de WhatsApp a velocidade das respostas automáticas e a falta de tempo para reflexão. “Devemos manter um silêncio dentro da alma para ouvir o outro sem ter logo um palpite melhor para dizer. Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante da nossa arrogância e vaidade”, diria o saudoso escritor Rubem Alves (1933-2014). 

Talvez a escuta e o ato de estabelecer uma pausa para a resposta sejam saídas e oportunidades para voltarmos a valorizar a fala e a importância da linguagem.

Ouvir para que a conversa volte a acontecer. A notícia publicada esta semana de que líderes de 27 países da Comunidade Europeia se uniram em mais de 90 horas de conversas para conseguir chegar a um acordo pode ser usada como exemplo. Afinal, conversar e não só falar requer tempo. 

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