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Novo mundo

É preciso espelhar, para futuras gerações, o retrato da mudança que esperamos realizar como símbolo do nosso tempo pós-pandemia

Por Alice Ferraz
Atualização:

Se estilistas consagrados e marcas com história e intensa vivência no mercado estão em busca da transformação necessária para acompanhar esse novo tempo, como enxergam o caminho aqueles que nasceram e já se encontraram dentro do maior desafio do mercado de moda no Brasil e no mundo?

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Entre as marcas que nasceram na última década, a maior parte já traz em sua gestão o comportamento esperado por jovens empreendedores com relação a consciência e propósito. Aos 28 anos, o fundador da novata Misci, Airon Martin, criou sua marca com mensagens claras de apoio à sustentabilidade e inclusão. Airon cria coleções anuais e assim tem a oportunidade de se aprofundar nos temas que fazem nascer, não só roupas, mas mobiliários de sua autoria. Nascido na Amazônia, o estilista diz que seu senso político sempre esteve presente nas criações e uma de suas missões é “frear atitudes que ferem a marca Brasil no mundo”. Sua busca não é só filosófica: “Estou à frente de um projeto de lei de incentivo ao design nacional, que tem como foco a liberação de créditos reduzidos para produtos que são projetados e fabricados no Brasil com matéria-prima brasileira”, conta.

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Nesse momento de metamorfose, a moda carrega o real significado dessa palavra, não só na aparência, mas na estrutura, comportamento e no modo de pensar e agir. Assim, espelharemos para futuras gerações um retrato da mudança que esperamos realizar como símbolo do nossos tempo pós-pandemia. Outra bandeira de Airon é a conscientização do machismo estrutural na cultura brasileira. Sua moda é genderless, sem gênero, como manifestação da igualdade.

Já a Yoface espelha bem esse novo momento de transformação intensa e nasce como protagonista no segmento de impressão 3D, sendo a primeira marca de óculos brasileira a usar essa tecnologia para a fabricação de óculos em escala industrial. “Nossa produção é realizada de acordo com a demanda, o que acaba com o estoque. Além disso, a possibilidade de criação para designers usando essa tecnologia é extraordinária, porque nos facilita a criação de produtos customizados e únicos”, diz Ivan Cavilha, fundador da marca.

Marca utiliza tecido e mão de obra nacionais Foto: Cai Ramalho

Rafaella Caniello e sua Neriage enxerga o momento com a maturidade necessária para realizar mudanças ao mesmo tempo em que entende suas raízes brasileiras. Todo o tecido usado em suas criações e a mão de obra são 100% nacionais, fatores fundamentais para reforçar a marca. “Apesar de muitas vezes me dizerem que minhas roupas têm uma referência europeia, posso garantir que o Brasil é meu lugar de pesquisa e minhas criações traduzem minha visão da minha terra natal e a busca constante em conhecer sempre mais o nosso País. As mulheres indígenas do alto do Rio Negro deram o tom da minha última coleção e representam essa inspiração constante”, reforça. 

Ana Luisa Fernandes, nascida em Belém do Pará, criou sua Aluf com propósito claro. “Somos uma marca de design de moda que traz uma solução e não um problema ao mundo. Toda nossa matéria-prima é sustentável, nacional, reciclada e biodegradável. Nossos pilares são sustentabilidade e arteterapia, trazendo autoconhecimento através da roupa”, diz ela, mostrando uma roupa sofisticada e com modelagem impecável, que quebra qualquer preconceito que se possa ter a roupas feitas de tecido a base de garrafa pet. Ana Luisa traz uma provocação importante e presente em cada conversa com esses jovens criadores: a importância de se autointitular moda brasileira quando essa bandeira tem lastro e fundamento.

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A moda nacional brasileira de design autoral existe e está longe de ser a roupa produzida por marcas nacionais na China com tecido, mão de obra e etiqueta chinesas que, mesmo assim, se autodenomina “moda brasileira”. “Temos que iniciar um processo que valorize a matéria-prima nacional e encontrar caminhos que contribuam para que nossas indústrias têxteis sobrevivam. Comprar e produzir na China é mais barato, mas não conseguiremos melhorar a qualidade do que produzimos no Brasil, nem encontrarmos nossa identidade, se continuarmos nesse ciclo”, reforça Ana Luisa. Está nas mãos desse novo consumidor mais consciente o que e por que comprar uma peça de roupa – e o real significado que ela carrega.

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