
30 de maio de 2020 | 16h00
“Branco é a pureza da superfície limpa na qual se escreve a vida moderna.” A frase dita por um dos pilares da arquitetura moderna, o suíço Le Corbusier (1887-1965), sintetiza um pensamento contemporâneo sobre o uso do branco nas construções atuais. Oscar Niemeyer (1907-2012) já utilizava dessa união de todas as cores para criar suas formas orgânicas, como vemos em obras como a sinuosa marquise do Parque do Ibirapuera e a vizinha Oca, em São Paulo.
'Moda': Sem contato
A ressonância desse pensamento tem ecoado nos tempos atuais, em um movimento que ganha cada vez mais corpo e forma no Brasil – algo já explorado com frequência nas arquiteturas portuguesa e japonesa. Em contato com a simplicidade, muitos defendem a composição luminosa que acontece quando o branco reverbera em si mesmo. “Ele nos ajuda a criar uma massa que determina o vazio, o espaço, permitindo-nos criar formas mais escultóricas. Como nossos olhos não se distraem com as cores vibrantes ao redor, é possível visualizar o espaço com mais limpidez”, explica.
Marina Acayaba, sócia do escritório AR Arquitetos, ao lado do marido, Juan Pablo Rosenberg. Foi seguindo esse princípio que o duo desenhou uma residência na Rua Atlântica, nos Jardins, em São Paulo. O branco funciona como um rebatedor e amplificador da luz, dando certa radicalidade às formas. “Nossa ideia foi criar um vazio em meio à casa por meio de um volume de gesso que altera nossa percepção da gravidade, já que ele flutua.” A luz que emana e se multiplica também é uma das premissas dos projetos assinados pelo Atelier Branco, dos sócios Matteo Arnone, italiano, e Pep Pons, da Espanha. Radicados há quase uma década no Brasil, eles trazem em seus projetos o branco como a base neutra necessária para que a forma e a luminosidade sobressaiam. É o caso do Centro Cultural Olhão, que, em plena Barra Funda, zona oeste da capital paulista, não precisa de lâmpadas ligadas para deixar o ambiente iluminado. “São Paulo é uma cidade acinzentada, por isso a luz é um bem precioso, que precisa ser multiplicado”, explica Pep.
Mariana Schmidt, sócia do MNMA Studio, ao lado de André Pepato, ilustra o seu branco com uma alegoria de materiais. Segue uma linha sustentável, como pinturas de parede de pigmentação natural à base de terra, areia e sem aditivos químicos. O escritório, adepto à arquitetura do vazio, “que não precisa ser preenchido”, diz ela, busca promover a experiência e trabalhar as dimensões. Textura é a palavra de ordem da dupla, que define seu trabalho como sensorial. “Buscamos a leveza e a simplicidade. Um respiro para o ambiente”, conta. Palavras que ecoam e iluminam os tempos atuais, que, em todas as esferas criativas, têm o mesmo objetivo: criar espaços afetivos que reverberem a tão desejada paz.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.