Ensino enfrenta desafios do mundo digital

Instituições do universo fashion criam formas de adaptação à educação remota

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Por Alice Ferraz
Atualização:

Em meio à pandemia causada pelo coronavírus, a oferta de cursos digitais no universo da moda cresce e oferece a possibilidade dos alunos estudarem a distância. São várias opções de qualidade que permitem ao aluno, inclusive, sair certificado das atividades.

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Se o tempo é, como sabemos, de reflexão e reinvenção, estudar pode ser a melhor saída para quem tem de ficar em casa. Quando a pandemia passar, porque ela vai passar, estar preparado e com um novo repertório pode fazer toda a diferença na hora da retomada do mercado de trabalho.

Universidades de todo mundo, escolas e plataformas de streaming estão já dentro do mundo digital. A maior parte delas optou por oferecer seus produtos de forma gratuita. Bons exemplos disso são a Universidade de Yale, nos Estados Unidos, que oferece grande parte de seus cursos sem taxa. O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) também aderiu à iniciativa, assim como as brasileiras USP e FGV.

Para a CEO da Belas Artes, Patricia Cardim, o momento desafiou o mercado de educação para uma entrega de conteúdo de excelência não só na modalidade a distância como também na adaptação da experiência presencial para uma educação remota. “A Belas Artes, em pouco mais de uma semana, estruturou toda sua equipe acadêmica para adaptar seus conteúdos à nova realidade, entregando uma plataforma única, acolhedora e fácil para que os alunos possam ter aulas em tempo real, interagir com os professores, se concentrar para conquistar um conhecimento ímpar”, explica a gestora.

Os alunos de graduação e pós-graduação dos cursos de moda da instituição, localizada na Vila Mariana, em São Paulo, estão assistindo às aulas normalmente, fazendo avaliações, entregando trabalhos e estão engajados a participar de eventos relevantes para seu repertório. “Nos cursos de curta duração, lançamos uma nova modalidade, o Digital Class. Nas salas de aulas virtuais, ocorre uma interação em tempo real com o professor. O conteúdo do curso também fica disponível por mais 30 dias após o término das aulas”, diz Cardim.

Alunos também estão sendo desafiados a incorporar o novo modelo. “As aulas online de moda estão sendo uma grande experiência para nós, alunos. Os professores estão nos ensinando um modo de aprender que nunca tínhamos vivido antes. Estamos reconhecendo a importância da moda circular. Está sendo uma oportunidade de amadurecimento”, explica Giuliana Arcuri Bulos, aluna do segundo semestre de Design de Moda da Belas Artes.

Na última semana, o aumento pelos cursos do segmento da moda tem sido, em grande parte, voltado aos módulos de visual merchandising e consultoria de imagem. “O mercado da moda segue o mesmo caminho, de se reinventar e repensar seus processos. As suspensões e adiamentos das Fashion Weeks no mundo influenciarão todo o sistema”, diz a professora Juliana Pirani, também da Belas Artes.

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É certo que a forma de promoção e de consumo será outra e o mercado terá de incorporá-la. “Outros movimentos tomam força, como os de compras de produtores locais e de fomento da economia nacional. As indústrias precisam ser ainda mais criativas. Novos produtos surgem e novas formas de se comunicar, se apresentar e vender. As marcas precisam estar cada vez mais no ambiente online de maneira humanizada”, afirma a docente. Segundo ela, atualmente, empresas de todos os portes olham para o momento com empatia e cuidado. “Há confecções alterando suas plantas e projetos para atender mercados que nunca antes trabalharam, como o de insumos hospitalares”, diz Pirani.

Cena de aula da Polimoda, escola italiana de moda e fashion Foto: Polimoda

No caso da escola italiana Polimoda, uma das melhores escolhas do segmento no mundo, os alunos de graduação e mestrado estão participando de aulas online, especialmente nos cursos focados em tópicos abstratos e teóricos. No quesito prático, no entanto, a chefe educacional da instituição, Gabriele Moschin, conta as dificuldades de obter o mesmo resultado.

“Somos reconhecidos no que diz respeito ao ensino prático. Oferecemos várias instalações e laboratórios técnicos aos alunos do departamento de moda. É por isso que estamos ansiosos para reabrir as portas de nossos três principais campos, localizados no centro de Florença”, diz.

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Antes que a pandemia tomasse proporções mundiais, havia uma quantidade grande de inscrições para os cursos de moda na instituição, como é comum, diz Gabriele. “Fomos uma das primeiras escolas a se adaptar imediatamente a esse novo mundo de distanciamento social, com aulas remotas e conteúdo transmitido em aulas gravadas. Queríamos que nossos alunos de moda participassem proativamente dessa nova vida de quarentena. Assim, pedimos que nos enviassem seus projetos e suas expectativas para o futuro. O que percebemos com essas iniciativas, iniciadas desde o início do contágio, é o crescimento forte do senso de comunidade, algo muito engrandecedor”, diz Moschin.

Muitos dos mentores dos cursos promovidos pela Polimoda contribuíram amplamente para essa iniciativa, escrevendo cartas e enviando vídeos aos alunos. Porém, grande parte dos estudantes não está interessada apenas em cursos online. Os alunos continuam esperando a volta do aprendizado prático. “Vejo neles uma necessidade imediata e insuportável de retornar aos relacionamentos pessoais interativos”, observa Moschin. “A Polimoda está se preparando para os dois cenários, de mais meses de isolamento e o de gradual retorno à normalidade, mas nossos corações esperam que, em breve, possamos retomar em um ritmo com mais equilíbrio entre o digital e o presencial.”

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