Em tempos de covid, Dior também aposta no conforto

Marca percebeu as mudanças radicais na sociedade e apresentou uma linha feminina nitidamente fluida, transformando até mesmo sua icônica Bar Jacket para que as mulheres se sintam 'em casa'

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Por Anna Pelegri
Atualização:
Modelos apresentam criações da Dior durante o desfile Primavera-Verão 2021 da Paris Fashion Week em Paris. Foto: Lucas BARIOULET / AFP

PARIS, FRANÇA- No primeiro grande desfile da era covid-19 em Paris, a Dior percebeu as mudanças radicais na sociedade e apresentou uma linha feminina nitidamente fluida, transformando até mesmo sua icônica Bar Jacket para que as mulheres se sintam "em casa". 

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"Cortar é pensar". Essa ideia norteou a mão da diretora artística Maria Grazia Chiuri na concepção da coleção para a próxima primavera-verão, que certamente deve marcar uma ruptura com o mundo de ontem. 

Em um ambiente eclesiástico, com modernos vitrais "patchwork" e um coral feminino cantando Voceri - música clássica associada a cerimônias fúnebres -, a italiana apresentou a sua "transformação dos códigos Dior para representar a contemporaneidade", como disse à AFP antes do desfile.

"Hoje as pessoas têm uma relação diferente com o corpo, querem se proteger, é algo que até agora não tínhamos levado em consideração.  Além disso, o estilo de vida é diferente, mais privado", refletiu a estilista. Por isso, a grande novidade desta coleção é a modificação do design da elegante Bar Jacket, tradicionalmente estruturada e ajustada ao corpo. 

"A ideia era fazer uma jaqueta para se sentir em casa. Trabalhamos muito com tecidos macios e rústicos, como linho e malhas", explica Maria Grazia. 

A nova proposta é inspirada em um casaco desenhado por Christian Dior em 1957 para uma coleção feita no Japão.  É largo, comprido e um cinto permite ajustar ao gosto de cada mulher.

A flexibilidade dá o tom da coleção da Dior: a peça não fixa a forma, mas envolve o corpo com fluidez. Foto: Lucas BARIOULET / AFP

Cores suaves, tecidos vaporosos

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A flexibilidade dá o tom da coleção: a peça não fixa a forma, mas envolve o corpo com fluidez. Vestidos esvoaçantes de musselina de seda, abertos em forma de V nas costas, bordados florais.

A camisa masculina transforma-se em túnica ou vestido e é associada a calças ou shorts de listras largas. Também é usada sob grandes casacos.

As cores são suaves, muitas evocam a terra. Chiuri trabalha com "colagem", uma técnica de tecelagem indonésia que dá um ar boêmio à coleção.

A Dior teve que se contentar com um público de cerca de 300 convidados, longe de 1.400que costumava receber no Museu Rodin. Foto: EFE/Dior

"Adaptação à dificuldade"

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Enquanto a maioria das grifes apresentará suas coleções em formato digital durante esta semana de moda, a Dior, assim como Chanel e Louis Vuitton, decidiram retornar ao formato físico apesar de todas as limitações impostas pela situação de saúde na França, onde a covid-19 volta a avançar. 

Chiuri defendeu que "o público faz parte do desfile" e que o fato de fazer mostra que "podemos nos adaptar às dificuldades" e procurar "outras soluções" em paralelo, como a sua divulgação nas redes sociais, inclusive pela primeira vez no Tik Tok

Mas a indústria da moda também não escapou do novo normal, e o desfile em uma pequena tenda no Jardin des Tuileries foi uma prova disso. A Dior teve que se contentar com um público de cerca de 300 convidados, longe de 1.400 - incluindo atrizes, modelos e outras celebridades de todo o mundo - que costumava receber no Museu Rodin.

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Ativista segura cartaz enquanto modelo apresenta criação da Dior durante desfile da Paris Fashion Week. Foto: Lucas BARIOULET / AFP

Mas os presentes puderam, pela primeira vez, observar o desfile à vontade, devido ao distanciamento social obrigatório, e vivenciaram algo inédito: aguardaram apenas alguns minutos pelo seu início.

A cerimônia também foi encerrada de forma inesperada, com um público que se levantou com uma grande faixa proclamando "somos todos vítimas da moda". 

A ação foi reivindicada pelo grupo ambientalista Extinction Rebellion.

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