11 de junho de 2022 | 06h00
Com uma história de mais de seis décadas e um público fiel de cerca de 400 mil visitantes a cada edição anual, o Salão do Móvel de Milão reina absoluto no pódio de eventos de design mundial. A feira que ocorre na Itália no primeiro semestre de cada ano abriu as portas de sua edição de número 60 no dia 7 com 2.175 expositores, destes, 600 são novos designers com menos de 35 anos.
Foi exatamente como um jovem talento que o designer brasileiro Pedro Franco fez sua estreia no cenário especializado milanês. A oportunidade surgiu em 2000 após o então estudante de arquitetura de 22 anos ganhar o concurso Brasil Faz Design, “com uma peça que desenhei em workshop do MuBe (Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia)”, relembra Pedro. A criação que o levou à Itália, em evento simultâneo ao Salone del Mobile, também foi o bilhete dourado que lhe abriu as portas para este mundo.
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Na época, Franco foi “descoberto” por Marva Griffin, idealizadora do Salone Satellite, que faz parte da programação do salão. Além disso, o brasileiro teve sua criação – a poltrona Orbital – fotografada como capa do livro Scenari Del Giovane Design, de Vanni Pasca, importante crítico e curador de design. Com a visibilidade conquistada nessa primeira viagem vieram os convites para participação em outros eventos pelo mundo e também em Milão.
O caminho percorrido com dedicação e paixão rendeu ao designer a melhor localização do Salão em 2022, ao lado de gigantes como Kartell e Edra. Lá, Franco exibe um trabalho autoral, carregado de emoções e histórias. Em alguns casos, o conceito apresentado em Milão é adaptado para ser produzido industrialmente e vendido pelo mundo.
Foi assim com um de seus maiores hits: a linha Underconstruction, formada por sofás e poltronas feitos de tiras acolchoadas trançadas sobre uma estrutura de metal, que foi lançada em 2009 na Itália. A peça é resultado de pesquisa do designer que visa inserir o feito à mão no processo industrial.
Em 2022, a linha segue em destaque no espaço, ao lado de novidades nas quais segundo ele “eterniza histórias brasileiras”. “Há alguns anos resolvi traduzir a brasilidade de diferentes formas na minha coleção, não só pensando no produto, mas no design como uma plataforma para registrar diferentes culturas, saberes e fazeres.”
Na linha Rendeiras, Franco traz cheios e vazios que mimetizam as rendas brasileiras, “esse rendado nasceu da técnica de uma artesã do interior da Bahia, quando a peça ficou pronta fui procurá-la, ela havia falecido e ninguém da sua família se interessou por aprender a técnica. Isso é um pouco do design brasileiro que se perde. A coleção nova traz essa vontade de eternizar o tempo”.
ARTESANAL. O encontro do artesanal com o industrial permeia o trabalho de Pedro e aparece em várias de suas criações. Em 2022 o brasileiro leva para Milão lançamentos que incluem uma linha de tapetes desenhada com formas orgânicas e linhas douradas para remeter à técnica japonesa de reparar cerâmica usando ouro chamada Kintsugi, que também inspira um novo modelo de aparador e mesa.
Outras novidades incluem uma colaboração com a empresa Cerâmica Portinari, pela qual Pedro criou revestimentos pensados para valorizar as imperfeições e aceitar os desgastes que surgem com o passar do tempo, e dois novos modelos de cadeira a New Thonet e a Barroca, que remetem a diferentes momentos da história do design.
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