Criador do ‘capitalismo consciente’ vem ao Brasil

Autor do livro ‘Empresas Que Curam’, Raj Sisodia defende a união entre resultado financeiro e bem-estar social

PUBLICIDADE

Por Alice Ferraz
Atualização:

Conhecido mundialmente pela criação do movimento Capitalismo Consciente em 2010 ao lado de John Mackey, fundador da Whole Foods, o indiano Raj Sisodia, especialista em gestão, palestrante internacional e autor de mais de uma dezena de livros sobre o tema, esteve no Brasil esta semana e falou em nosso encontro sobre o desenvolvimento da filosofia nos últimos 12 anos, a valorização pelas startups dessa visão de liderança consciente e o papel das grandes empresas no movimento que busca a prosperidade de forma humanizada, equilibrando o resultado financeiro com valores como propósito, bem-estar social e cuidado ambiental.

O indiano Raj Sisodia especialista em gestão Foto: Acervo Raj Sisodia

PUBLICIDADE

“Empresas nascem não só para gerar lucro, mas por uma causa, um propósito, e seus líderes devem ser responsáveis por servir ao propósito da organização cultivando uma cultura consciente”, explica Raj, que defende a ideia em seu último livro Empresas que Curam, lançado no Brasil pela editora Alta Books. “Durante a pandemia, essa reflexão se tornou ainda mais urgente. A forma como temos feito negócios tem um custo muito alto para os seres humanos e causa demasiado sofrimento.” 

Raj se baseia em dados que mostram o custo humano em detrimento do bem-estar social. O empresário explica que apenas 20% dos funcionários de empresas americanas estão realmente engajados em suas funções. Por outro lado, os números só crescem quando falamos em burnout. Suas pesquisas trazem dados alarmantes, como o que mostra que 84% dos empregados de empresas americanas acreditam que a firma na qual trabalham não tem nenhum interesse por eles como seres humanos. 

“As estatísticas nos mostram que ter empatia e cuidado traz ganhos reais, como o que garante que o aumento do nível de confiança e cuidado entre funcionários e líderes de empresas trazem a diminuição de processos judiciais.” “Construímos nossos modelos de negócio de uma forma que, para manterem seus empregos e ganharem o próprio sustento, pessoas tenham suas vidas mais curtas e mais difíceis”, diz Raj, com a certeza de que esse modelo está ultrapassado.  No livro Empresas Que Curam, ele traz 25 histórias reais de empresas que conseguiram atingir e manter o raro equilíbrio entre superar metas financeiras e possibilitar que seus funcionários cheguem ao final do dia mentalmente mais fortes e completos, contribuindo para uma sociedade mais sã. “Ser profissional e fazer bons negócios não significa nos tornar menos humanos.” 

A certeza de que a fórmula, que parece simples e até ingênua, pode transformar empresas em um curto espaço de tempo vem de exemplos citados por Raj, como a gigante Microsoft e seu presidente Satya Nadella. Satya, que usa em sua gestão muitos elementos do capitalismo consciente, se tornou conhecido por transformar a corporação em pouco tempo usando essa nova visão de liderança com clareza e empatia. 

Desde 2014 ele vem alterando a visão que seus funcionários tinham da empresa, relembrando e elevando o propósito para o qual a Microsoft foi fundada: o de democratizar a computação, adicionando valores como empatia, construção de conexões e uma cultura com valores sólidos. 

As mudanças levaram a Microsoft a uma explosão de crescimento. Raj afirma que Satya trouxe um aspecto feminino para sua liderança e tem contribuído para alterar a noção de que o mundo dos negócios é um campo de batalha onde existem poucos ganhadores e muitos perdedores. 

Publicidade

O empresário acredita que a mulher e o feminino em equilíbrio na liderança masculina podem contribuir para essa redefinição da noção do capitalismo escrito por Adam Smith em 1776. “Gosto de dizer que o capitalismo tem como mãe e pai Adam Smith e precisamos reconstruir essa visão unicamente masculina que tem guiado os negócios e negado espaço para que a energia feminina exerça sua função. 

Quando você exclui a energia feminina de um líder homem, você adoece a capacidade de integrar certas qualidades. Força sem amor é tirania e amor sem força se torna ineficaz”, conclui.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.