Consciência, propósito e consumo

Com a pandemia, a consciência do coletivo nos leva a propósitos também coletivos que se tornam fundamentais nas decisões de consumo

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Por Alice Ferraz
Atualização:

Frases como “nunca pensamos em passar por algo assim” são ditas diariamente em uma constatação que traduz nossos sentimentos em palavras de espanto, angústia e medo. No primeiro momento, a pandemia afetou nossa estrutura funcional, nossa saúde física e financeira. Foi um choque que nos paralisou. Sobreviver tomou todas as nossas forças – estávamos em busca de um caminho de chão concreto onde pudéssemos pisar. Passado o primeiro tranco, e ainda sob forte impacto, percebemos o quanto nossas bases foram abaladas.

Ilustração de Juliana Azevedo para coluna de Alice Ferraz Foto: Juliana Azevedo

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Nosso equilíbrio emocional, que vinha do nosso cotidiano, de um modo de viver conhecido a que estamos adaptados, foi colocado à prova. Com um chacoalhão sem precedentes na nossa breve história, a vida mostrou que algo estava muito equivocado em nossos comportamentos. Esse sofrimento emocional profundo a que temos sido submetidos gerou um fruto importante que carrega a semente da transformação: o processo de tomada de consciência. Estar atento, desperto e com sentido de percepção tornou-se a chave. A vida no piloto automático, em que repetíamos padrões estabelecidos, para de fazer sentido. Tudo nos leva a um novo olhar e precisa de atenção redobrada e exaustiva para ser concluída. Nesse processo de autoconhecimento, a palavra propósito se torna protagonista. O propósito passa a guiar nossas ações, que agora têm a consciência como pilar. E assim chegamos à palavra moda como expressão do comportamento de um tempo.

Ter propósito está na moda. Estamos todos imbuídos de valor em nossas ações, um objetivo maior deve ancorar o que antes realizávamos sem pensar. A compra da roupa, dos móveis, da arte, das flores passa a ser questionada não só pelo ponto de vista financeiro, mas pelo que ela representa. Comprar sem propósito sai de moda, cai em desuso e um homem ou uma mulher dotado de consciência quer entender, avaliar, sentir, antes de consumir. Avançando por esse caminho, entendemos que o propósito é palavra de âmbito pessoal, que nos impulsiona de acordo com o objetivo de cada um. O que muda agora é que, com a pandemia, a consciência do coletivo nos leva a propósitos também coletivos que se tornam fundamentais nas decisões de consumo, algo antes pouco levado em consideração pela maioria afoita em comprar, seja como forma de entretenimento, seja para demonstrar riqueza pessoal.

São mudanças de valores globais que carregam o poder de transformar a cadeia de consumo, seja por consciência individual ou pela vontade de pertencer a esse novo modismo coletivo. A compra com propósito é a chave para abrir nossos desejos e bolsos. Varejistas do mundo todo irão perseguir esse conceito. Vale a reflexão consciente na avaliação de quais marcas já eram guiadas por propósitos e quais, de maneira oportunista, irão criar narrativas que convençam o consumidor de um ideal inexistente. De qualquer maneira, sairemos todos ganhando. A busca pelo significado real na compra é um caminho melhor do que o vivido até agora.

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