Alice Ferraz: Você é daqui?

Estava feliz e confortável sem bolsa, sentindo-se minimalista com os cabelos pretos puxados e sem nenhuma maquiagem

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Por Alice Ferraz
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Domingo em São Paulo. Uma chuva fina constante caía na cidade e, com ela, nascia um desejo de aproveitar um dos pontos gastronômicos da cidade. Ela e o marido saíram a pé avaliando e analisando onde realizariam seus desejos. A semana tinha trazido uma grande surpresa, um encontro com um dos maiores arquitetos no mundo, uma conversa informal que havia deixado ecos diários. 

O minimalismo, estilo composto por formas simples em oposição ao que é excessivo, estava em sua cabeça desde o tal encontro – e suas roupas espelhavam seu estado de espírito. Durante a semana, tinha tirado anéis e brincos, escolheu looks sem estampas e no sábado, finalmente, colocou um vestido preto longo monástico e um colar que carregava uma concha em madrepérola presa rente ao pescoço. 

Ilustração para coluna de Alice Ferraz Foto: Juliana Azevedo

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Sandálias rasteiras com faixas que cobriam os pés de ponta a ponta foram o par eleito, deixando entrever apenas pequenos espaços de pele. Estava feliz e confortável sem bolsa, sentindo-se minimalista com os cabelos pretos puxados e sem nenhuma maquiagem. 

Entraram no restaurante escolhido e enquanto o marido conversava com o recepcionista para ver quanto tempo teriam que esperar, ela aguardava a alguns metros, em frente ao salão principal. – Por favor, você fala português?, perguntou uma senhora a ela delicadamente. – Eu? Desculpe, não entendi, respondeu sorrindo. A senhora completou: – Você toda de preto, cabelos para trás, sem maquiagem não parecia alguém daqui. 

Já havia se sentido assim, uma estrangeira em seu próprio país, mas dessa vez estava tão claro. Olhou ao redor e viu mulheres com roupas coloridas, estampas, brilhos e a exuberância contagiante da brasileira. 

Ela que entendia a roupa como símbolo que conseguia enxergar o código de seu país. Uma alegria de viver genuína e cheia de sons, toques carinhosos, abraços festivos e a vida em grupo. Se sentia diferente, mas em casa, destoante, mas acolhida. 

O marido colocou delicadamente o braço em seus ombros, piscou e deu um leve beijo em sua face. Almoçaram em completa sintonia: dois estrangeiros em meio ao colorido e cheio de charme jardim brasileiro.

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