Alice Ferraz: No acorde de Tom Jobim

Nós, brasileiros, temos construído uma história de conquistas e glórias através da cultura musical, povos que desejam ser conquistados por nosso som e nos admiram por livre e espontânea vontade

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Por Alice Ferraz
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Na primeira noite de férias, a primeira música que ouviu depois de 22 horas de avião e mais 1 hora de um pequeno hidroavião que a carregou para o meio do Oceano Índico, na pequenina ilha de Muravandhoo, foi a suave e reconfortante voz de Tom Jobim e sua bossa nova.

Não é novidade para viajantes que nossa MPB e, principalmente, nossa aclamada bossa nova, faça parte de todas as playlists de hotéis e restaurantes pelo mundo, mas aquele tom manso e doce com palavras pausadas escolhidas com cuidado, uma a uma, na canção de Tom, trouxe algo novo para sua mente inquieta. 

Ilustração para a coluna de Alice Ferraz Foto: Juliana Azevedo

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Nos últimos tempos tinha notado com mais intensidade nossa língua portuguesa sendo usada com violência e até desprezo em brigas, discussões, no ambiente hostil das mídias sociais. Vídeos e fotos invadiam sua tela com notícias que eram o extremo oposto da mesma língua usada na incrivelmente suave criação de Tom. A vida como ela é?,diria Nelson Rodrigues. Tinha que discordar. Será que um povo reconhecido internacionalmente por sua musicalidade, seu canto falado, que através da língua promovia esperança, liberdade, alegria, suavidade pelo mundo, não merecia “mais” dentro de sua própria casa? 

Grandes homens da história gostavam de realizar e mostrar suas obras monumentais, ganhar batalhas invencíveis, para deixar uma marca, um legado. Pátrias lutam para conquistar novos territórios, demonstrando assim seu poder ante a submissão de outros povos, sendo homens honrados por esses feitos como conquistadores.

Nós, brasileiros, temos construído uma história de conquistas e glórias através da cultura musical, povos que desejam ser conquistados por nosso som e nos admiram por livre e espontânea vontade. Quem nos ouve indica para amigos, que se embriagam com a poesia sonora e se deleitam com a musicalidade da nossa língua portuguesa brasileira. 

Ali do outro lado do mundo, vendo melhor a figura – “sair da ilha para ver a ilha”, como diria um mestre das palavras Saramago –, entendeu que ver seu país ser lembrado sempre pela sofisticação popular, pela música instrumental e pelo melhor uso da língua portuguesa talvez fosse a melhor forma de ser reconhecido.

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