Alice Ferraz: Menino-homem

Quando se conheceram, ela aos 36 e ele aos 24 anos, ele era um menino-homem cheio de opiniões, de certezas e de possibilidades. Quem seria ele em 10 anos?

PUBLICIDADE

Por Alice Ferraz
Atualização:

Era domingo e ela parou para olhar as fotos antigas, o que lhe pareceu um exercício de reconhecimento e valorização da própria trajetória já que o casal estava em uma crise que durava já mais de um mês. Um desencontro de expectativas, um excesso de foco em pequenas promessas que pareciam não cumpridas de lado a lado tinham culminado naquele dia nublado por dentro e por fora. 

Ela esperava que as fotos a carregassem naturalmente para um começo de leveza e descompromisso. Mas uma exploração daqueles sentimentos causou, em vez de saudades, uma alegria sutil por já estarem em outro espaço-tempo. 

Ilustração para coluna de Alice Ferraz Foto: Juliana Azevedo

PUBLICIDADE

Quando se conheceram, ela aos 36 e ele aos 24 anos, ele era um menino-homem cheio de opiniões, de certezas e de possibilidades. Quem seria ele em 10 anos?

Para uma mulher já madura e com um filho, conhecer e se apaixonar por um homem nessa idade tinha um fator de risco e uma certa insegurança que fazia tudo parecer mais perigoso e talvez também mais interessante. Aos 36 anos e separada, arcando com as próprias despesas sozinha, ela trazia aprendizados e dores de suas vivências anteriores. 

Lembrou da frase de seu terapeuta quando contou pela primeira vez sobre seu novo namorado: “Você não está contratando ninguém para uma vaga de trabalho ou para fazer um negócio. Ele não tem que preencher lacunas que faltam, ele é ele”. 

AMADURECIMENTO. E assim foi. Com liberdade de ambos os lados para serem quem eram, o menino-homem amadureceu, foi seu par na educação do filho, na construção da empresa, da casa, da vida. Leu muitos e muitos livros, fez viagens e também passou tempos sozinho enquanto ela circulava pelo mundo construindo também sua nova identidade. 

No próximo mês, ele faz 40 e ela tem muito mais certezas em relação a quem ele será em 10 anos. Olhar as fotos antigas trouxe um ruído, a tensão da incerteza e não do conforto, do acolhimento bem-vindo que tinham construído ao longo de 16 anos. Fechou a caixa cheia de memórias para olhar o presente e testemunhar que ele era muito melhor do que a leveza da ilusão. 

Publicidade

Ele se tornou de fato seu grande amor e melhor companheiro. 

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.