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A pequena-grande Lia

Até ela dar as caras em determinado assunto, estamos às cegas, ignorantes do que ignoramos

Por Alice Ferraz
Atualização:

Quando ela chegou, não sabíamos nada sobre as diferenças. Na verdade, não sabíamos nem o que não sabíamos e essa é a grande loucura da consciência e da falta dela. Até ela dar as caras em determinado assunto, estamos às cegas, ignorantes do que ignoramos.  Mas ela estava determinada a vir e abrir o véu para iluminar parte do caminho de uma família. Lia poderia ter se mostrado por inteiro no primeiro olhar, no primeiro dia ou mês de vida. 

Só que ela esperou para se revelar, porque sabia antes mesmo de nós que precisávamos primeiro conhecê-la sem nenhuma comparação, sem colocá-la em uma caixinha qualquer. 

Lia queria mais de nós Foto: Juliana Azevedo

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Assim, suas diferenças eram só características pessoais, seus abraços e sorrisos intensos eram só o de uma pessoa profundamente amorosa, seu foco absoluto em canções eram talento nato para música. Lia se apresentava ao mundo livremente e éramos envolvidos pelo amor que crescia sem julgamentos, como deve ser. 

Mas Lia queria mais de nós. Queria que entendêssemos a fundo como ela enxergava o mundo através de seus amendoados olhos verdes. Lia fez-se vista por inteiro quando fomos apresentados especificamente ao seu cromossomo 7. 

Naquele momento, um novo universo se abriu e nos tornamos abruptamente diferentes dela. Diferentes de seu sorriso constante e de sua memória auditiva. Nós fomos colocados em caixinhas distintas. 

Nós e Lia, separados por uma barreira intransponível estabelecida pela ciência. E isso era só mais uma prova da nossa profunda incompetência para compreender o longo caminho a percorrer para chegar à lucidez. 

Por que queremos ser todos iguais? Por que acreditamos que ser igual é bom e positivo? Por que o diferente é visto com desconfiança e medo? De mãos dadas com a pequena-grande Lia entrou em uma jornada de aprendizado pessoal e coletivo. 

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Lia ainda não percebe os olhares desconfiados de adultos ignorantes e nos conduz suavemente com suas mãos pequeninas e passinhos cheios de curiosidade. Lia, pequenina em corpo e enorme em presença, desafia o igual mostrando a graça do diferente.

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