
18 de julho de 2020 | 16h00
Em meio à pandemia, o combate ao racismo tomou conta das ruas pedindo pelo fim da violência contra a população negra. Nessa discussão, a indústria da beleza também está sendo cobrada por mudanças. Na esteira dos últimos acontecimentos, marcas estão revendo seus produtos, bem como o diálogo com seus consumidores. Mas esse parece ser apenas o início de um longo caminho.
Segundo a empresa de tendências WGSN, “está claro que ainda há muito trabalho a ser feito. De acordo com um relatório recente da loja britânica Superdrug, 70% das mulheres negras e asiáticas não sentem que são supridas de produtos oferecidos pelas marcas mais comerciais”, afirma Bruna Ortega, especialista em beleza da plataforma. “Como resultado da indústria querendo ser mais inclusiva e menos centrada na pele branca, o mercado mundial de produtos de pele está começando a evoluir, trazendo uma gama maior de cores de base voltada a diferentes tons de pele”, conclui.
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Para o maquiador Ale de Souza, a pluralidade de produtos é central nos dias de hoje. “O Brasil, ao contrário de outros países, ainda está engatinhando nisso. As marcas brasileiras têm que entender que a pele negra é cheia de subtons. Mais de 50% da população brasileira tem tonalidade negra. Ou seja, é um mercado consumidor fervilhante, ávido por produtos específicos.”
A questão dos subtons da pele negra é realmente um ponto que merece atenção, segundo a consultora de cosméticos Daniele da Mata. “As marcas brasileiras lançam normalmente dez, no máximo 20, tons de base. Desses, quatro são para pele negra.”
A mudança já pode ser notada. A Dior, por exemplo, conta hoje com 40 tons de base. Peter Philips, diretor de Criação e Imagem da Dior Makeup, intensificou a busca por diversidade, afirmando que a linha deveria atender as necessidades de todas as mulheres e se adaptar a todos os tons de pele. A MAC também está comprometida. A família de bases já possui 50 opções de tons. “Revisamos nosso portfólio e adicionamos como resultado de conversas com nossa comunidade de artistas e consumidores. Com base nessas escutas, em 2018 expandimos ainda mais nossa gama, agora com 59 tons”, revela Paola Vorlander, diretora da MAC Cosmetics no Brasil.
Apesar dos esforços, os investimentos, segundo Daniele, ainda são deficientes e é preciso colocar mais energia. “Conseguimos avançar muito e isso é fruto do posicionamento de marcas internacionais que colocaram no seu DNA a diversidade. Entretanto, ainda temos muita falta de representatividade negra na indústria em geral”, conclui.
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