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A casa de todos os povos

A pluralidade e o diálogo estão no cerne do Museu Judaico de São Paulo, o maior da América Latina, que abre suas portas este mês

Por Renata Piza
Atualização:

A cidade ganha, este mês, um novo espaço cultural: o Museu Judaico de São Paulo. Fincado na Rua Martinho Prado, na Bela Vista, o MUJ ocupa o templo Beth-EL, uma das sinagogas mais antigas da capital, projetada em 1929 por Samuel Roder e tombada pelo Patrimônio Histórico. Além disso, estende-se também a um prédio anexo todo de vidro, erguido ao longo dos últimos 20 anos por meio da persistência e da paciência de uma mobilização da sociedade civil, liderada por Sergio Simon, presidente da instituição. 

Simbolicamente, pode-se dizer que ele conserva a tradição judaica, enraizada no Brasil desde a época do descobrimento, e se abre para o presente, com disposição para inúmeras conversas com o entorno. “Nossa intenção é ter um museu vivo, que pulsa, que se trança com outras identidades”, diz o diretor executivo, Felipe Arruda, que deixou o Instituto Tomie Ohtake para se juntar à empreitada neste ano. “Não é um museu para a comunidade judaica, é um museu também para a comunidade judaica”, frisa.

O Museu Judaico de São Paulo Foto: Divulgação

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Na programação inicial, quatro exposições simultâneas abrem capítulos curiosos e importantes da comunidade judaica e de suas relações com o Brasil. Em Da Letra à Palavra, essa costura é feita por meio da escrita e representada pelo trabalho de 32 artistas basilares da arte contemporânea brasileira – há obras de Elisa Bracher, Beatriz Milhazes e José Bechara. “A linhagem judaica é menos de sangue do que de texto”, afirma Arruda, citando o escritor israelense Amós Oz.

“O menino se torna homem, no Bar Mitzvá, ao conseguir ler um texto da Torá.” Já em Judeus no Brasil: histórias trançadas, conhecemos os diferentes fluxos migratórios, do início da colonização no século 16 ao Brasil republicano. “Os judeus chegaram junto com os portugueses, d. Pedro II tinha uma Torá e falava hebraico, e o ciclo da borracha, na Amazônia, teve participação de judeus emigrantes da África do Norte.” 

Além das mostras temporárias, no coração do MUJ bate o Centro de Memória, um acervo riquíssimo, espólio do antigo Arquivo Histórico Judaico Brasileiro. São mais de 20 mil livros, 100 mil fotos, 400 depoimentos de história oral, 1 milhão de documentos, periódicos e outros registros à disposição do público para consultas e pesquisas.

Por fim, não deixe de observar os objetos corriqueiros, faqueiros, bonecas – tudo pode surpreender. Um pequeno relógio, por exemplo, abre o tempo para a história de um menino que o escondeu na sola do sapato, sobreviveu ao Holocausto e chegou ao Brasil.

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