13 de fevereiro de 2015 | 19h00
São 31 textos curtos. A maior parte de crítica literária. Algumas minibiografias a propósito de efemérides de figuras reais, várias femininas, protótipos de sua obra-prima Orlando. Crônicas irresistíveis, sobre uma mariposa ou a crítica, e até um hilário tratado sobre o riso. Versátil, Virginia Woolf ganhou seu pão diário escrevendo para a imprensa inglesa.
O Valor do Riso é o maravilhoso ateliê no qual experimenta as mais variadas receitas de escrita. E, o melhor para os musicomaníacos, deixa escapar que a música é um dos principais vetores de sua criação artística, ao contrário de seus parceiros de Bloomsbury, mais afeitos às artes visuais. Em 1901, aos 19 anos, afirma que a única coisa que vale a pena neste mundo “é música – música e livros, e um ou dois quadros”. Aos 58, confessa: “Penso sempre em meus livros como música antes de escrevê-los”.
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Adorava Mozart, Beethoven e Schubert. Fez do ritmo o núcleo gerador de sua arte, na expressão do crítico de arte e pintor Roger Fry, amigo dileto e figura-chave de Bloomsbury. Ou, como aponta o tradutor Leonardo Fróes em seu excelente texto introdutório, “o uso exaustivo do ponto e vírgula; a repetição ocasional de palavras ou frases; perguntas frequentes ao leitor ou à própria reflexão de quem escreve; e o meticuloso emprego de travessões enfáticos são alguns traços marcantes” de sua prosa.
Em 1921, compara-se a “um improvisador com suas mãos passeando pelo piano”, o que remete ao ensaio inicial de O Valor do Riso: Músicos de Rua é mais do que um flanar despretensioso pelos sons das bandinhas e músicos de rua londrinos nos idos de 1905. Mostra como a música é essencial, vital para o ser humano. Foi seu primeiro artigo na imprensa. Qualifica como divina a chama de um velho tocando violino na rua e anota o preconceito empolado do pessoal do andar de cima contra esta arte livre e perigosa. “É de fato impossível não respeitar qualquer um que tenha dentro de si um deus como esse; porque a música que se apodera da alma, e que assim torna esquecidas a nudez e a fome, deve ser divina em sua natureza.”
A jovem ousada de 23 anos termina sugerindo que se as melodias de Beethoven, Brahms e Mozart fossem doadas aos pobres pelos ricos e ouvidas nas esquinas, “é provável que todos os crimes e contendas logo se tornassem desconhecidos, podendo fluir melodiosos, em obediência às leis da música, o trabalho das mãos e os pensamentos da mente”. Assim, “do nascer ao pôr do sol nossa vida poderia passar ao som de música”.
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