Verissimo: A arte de um autor dizer tudo com poucas palavras

Refinado e com muita graça, o escritor e humorista coleciona pérolas da escrita em que é impossível se mudar uma vírgula

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Por Humberto Werneck
Atualização:

Aqui vai um desafio: tente cortar – ou acrescentar – uma palavra, uma vírgula que seja, em algo que Luis Fernando Verissimo, colunista do Estadão, tenha escrito. Nas pérolas que aqui vão, por exemplo, pinçadas na prosa de um mestre na arte de dizer o máximo com poucas e exatas palavras. Um artista a quem não falta graça, esse atributo tão difícil de definir e que vai muito além da capacidade de fazer rir. Eis aqui, sem qualquer pompa, um refinado sabedor das coisas e pessoas. 

Luis Fernando Verissimo segura camisa de seu time do coração, Internacional, em foto de 2001 Foto: Paulo Pinto/Estadão

“Só acredito naquilo que posso tocar. Não acredito, por exemplo, em Luiza Brunet.” “O mundo não é ruim, só está mal frequentado.” “Não sei para onde caminha a humanidade. Mas, quando souber, vou para o outro lado.” “Tive vários ‘relacionamentos’ (o que protege a moral no Brasil não são os valores cristãos, é o eufemismo).” “Tentei de tudo, até casar por amor, que é parecido com dinheiro, mas acaba mais depressa.” “A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final.” “Usar o sexo só para a reprodução é como só sair com o carro para levar na oficina.” “A gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda no texto.” “No Brasil, o fundo do poço é apenas uma etapa.” “Tem muita gente honesta neste país. Só não se identificam para não ficar de fora se aparecer um bom negócio.” “Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.” “Não vejo vantagem na reencarnação, a não ser que conte tempo para o INSS.” “Você só sabe até onde pode ir quando já foi.” “O trânsito é uma das provas de que não há nada menos civilizado que a civilização.” “A única parte de uma receita que me interessa é o ‘leve-se à mesa’.” “Muitas pessoas têm uma queda para a literatura, nem que seja só de um degrau.” “O problema de ter uma mente aberta é que ela não serve para guardar nada.” “Não existe um João Ninguém rico. Talvez um João Roberto Ninguém.” “Uma das grandes vantagens da infância é que não temos um gosto refinado.” “A adolescência é a velha luta entre neurônios e hormônios.” “Um excêntrico é um louco com saldo bancário.” “As conversas mais interessantes são as que não conseguimos ouvir.” “Resignemo-nos à ignorância, que é a forma mais cômoda de sabedoria.” “Viva todos os dias como se fosse o último. Um dia você acerta.” 

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