Veja cinco livros essenciais do escritor policial Luiz Alfredo Garcia-Roza

Morto há um ano, ele buscava entender, em sua obra, a origem da desigualdade brasileira

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Por Ubiratan Brasil
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O escritor carioca Luiz Alfredo Garcia-Roza morreu há um ano, em 16 de abril de 2020, depois de passar um ano internado após sofrer um AVC. Criador do detetive Espinosa, ele, que estava com 84 anos, é considerado um dos mestres do gênero policial no Brasil. Autor tardio, começou na literatura de ficção apenas aos 60 anos, em 1996, com O Silêncio da Chuva, romance que lhe rendeu o Jabuti.

O escritor e psicanalista Luiz Alfredo García-Roza, morto em abril de 2020 Foto: Marcos D'Paula/Estadão

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Garcia-Roza tornou-se conhecido por sua maior criação literária, o detetive bibliófilo Espinosa. Apaixonado pela economia e precisão encontrados nos escritos de Raymond Chandler e Dashiell Hammet, o escritor construiu, porém, um personagem completamente diferente de Philip Marlowe ou Sam Spade - Espinosa é um protagonista meio "gauche", um tanto excêntrico, no sentido de que não está bem encaixado em lugar nenhum. "Ele não é o herói, não é como os personagens dos romances policiais da década de 1940, que eram, por exemplo, aventureiros por excelência", comentou Garcia-Roza, em entrevista ao Estadão, em 2000. "É um ser mais reflexivo, sem ser um intelectual e sobretudo sente um mal-estar na vida." A inspiração do nome, revelou o escritor, foi o pensador holandês Baruch Espinosa (1632-1677), uma das figuras mais nobres da filosofia e também uma das mais investigativas. Essa personalidade tortuosa permitiu que as histórias fossem construídas fora do riscado tradicional. Garcia-Roza, criador do primeiro curso de pós-graduação em teoria psicanalítica do País, no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sempre acreditou na existência de uma faixa intermediária da sociedade, ocupada por profissionais tão distintos como policiais e psicanalistas. Apesar de fugir de psicologismos, criando um universo totalmente distinto, sua obra vasculha todos os pontos de Copacabana, no Rio de Janeiro. E, em meio a becos, há uma certa preocupação em entender a origem da desigualdade e da violência da sociedade brasileira. Veja cinco livros essenciais na obra de Garcia-Roza, todos publicados pela Companhia das Letras:

O Silêncio da Chuva (1996)

Sua estreia na ficção, é o primeiro caso do inspetor Espinosa. Conta a história do crime de um executivo, encontrado morto com um tiro, sentado ao volante de seu carro, no centro do Rio de Janeiro. Não há sinais de violência e a situação complica quando acontece outro assassinato e pessoas começam a desaparecer (268 páginas, R$ 23,90 o e-book)

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Uma Janela em Copacabana (2001)

Dois policiais são executados com pouca diferença de tempo, em Copacabana, no Rio. As vítimas têm muito em comum, como sendo policiais do segundo escalão, com carreiras medíocres. As investigações mostram que foram alvejados pelo mesmo homem, criminoso que dispara à queima-roupa e não deixa rastro. Espinosa, agora delegado, tem poucos elementos para desvendar o caso, mas sabe que quem cometeu os crimes tem uma motivação forte. (232 páginas, R$ 54,90 versão impressa, R$ 27,50 e-book)

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Berenice Procura (2005)

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Garcia-Roza dá um descanso a Espinosa e aqui apresenta ao leitor a taxista Berenice, obrigada a resolver um crime por razões que nem ela entende. Tudo começa quando um menino de dois anos, brincando na praia, descobre um corpo na areia: o da travesti Valéria. O ponto de Berenice fica perto do local do crime e, com as informações que recolhe no trabalho de taxista, ela acaba se envolvendo emocionalmente com o caso, o que permite a Garcia-Roza apresentar o submundo carioca. (184 páginas, R$ 52,90 versão impressa, R$ 26 e-book)

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Fantasma (2012)

Garcia-Roza sempre enveredou por espaços originais. Aqui, ele dá visibilidade a personagens habitualmente desprezados, como os sem-teto. E é o caso especial de Princesa, mulher que só se sente bem vivendo nas ruas e que se torna a provável testemunha de um crime: um homem foi esfaqueado. Só que ela se perde em devaneios, confundindo sonho e realidade, o que torna suspeita sua versão do crime. Cabe ao delegado Espinosa encontrar o que realmente são fatos. ( 208 páginas, R$ 52,90 impresso, R$ 25 e-book)

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A Última Mulher (2019)

Último livro de Garcia-Roza, lançado quando ele já estava hospitalizado. Ratto é um cafetão do bairro carioca da Lapa que se envolve com Rita, uma prostituta jovem e inteligente, que vira sua protegida. A vida de ambos se transforma quando começam a surgir mulheres mortas com requintes de crueldade. Isso obriga o delegado Espinosa a descobrir quem pratica crimes tão brutais a fim de evitar que Rita seja uma próxima vítima (120 páginas, R$39,90 impresso, R$ 27,90 e-book)

 

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