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Coluna semanal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|Um livro por semana: A expressão do afeto ('Nori e Eu')

Diagnosticado como uma criança do espectro autista, desenhista conta sua história em graphic novel que traz também a versão de sua mãe

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Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

A ideia de Nori e Eu surgiu como um exercício nas aulas de desenho e seu resultado extrapola o mero registro de uma história familiar ou a publicação de uma bela graphic novel. 

Ilustrações de Masanori Ninomiya para sua graphic novel autobiográfica Foto: Masanori Ninomiya

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Tudo começou quando Sonia Ninomiya comentou com o ilustrador Caeto como seu filho, então com 33 anos e diagnosticado aos 4 como uma criança do espectro autista, estava indo bem e como seu desenho também estava melhorando. O elogio encontrou um professor frustrado, que achava que não estava ajudando tanto Masanori, um aluno talentoso e decidido que não aceitava muito suas intervenções. Foi ali que ele teve a ideia de um projeto que unisse os três e desafiasse o garoto, que naquela época estava envolvido com uma HQ protagonizada por uma super-heroína brasileira que ele criara. E, num desses acasos do destino, o projeto chegou à WMF Martins Fontes e a editora publicou a graphic novel em 2019.

Nori e Eu é dividido em duas partes. A primeira é a história de Sonia e de sua relação com o filho, contada por ela. A segunda é a de Nori, contada por ele. E é ele quem ilustra as duas narrativas. A direção de arte é assinada por Caeto, autor de Memória de Elefante e Dez Anos Para o Fim do Mundo (Quadrinhos na Companhia) e responsável pela adaptação de Ivan Ilitch, de Tolstoi, para a HQ (Peirópolis).

Entrevistei os três um pouco antes do lançamento e volto agora ao livro como leitora e mãe. Pela primeira vez, tem uma criança do espectro autista na sala do meu filho. 

O relato de Sonia é corajoso e honesto. Acompanhamos esta professora universitária aposentada desde que ela conheceu o pai de seus filhos, em 1968, sua passagem pelo Japão, onde estudou por uma década, a volta, a primeira gravidez, as primeiras suspeitas de que seu filho fosse diferente, o nascimento dos outros meninos, suas angústias e medos. Nori nasceu em 1985. Imagine as idas e vindas a neurologistas, psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos. As barbaridades que ela teve de ouvir numa época de muito menos conhecimento e inclusão – e de mais discriminação.

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'Nori e Eu' traz relatos da mãe e do filho: duas versões para uma mesma história de crescimento Foto: Masanori Ninomiya

Sonia fez o que estava ao seu alcance para ajudar no desenvolvimento de seu filho, e reconhece seu privilégio. Acompanhamos as pequenas e grandes conquistas de Nori e chegamos à parte dele. Por meio de seu relato e de seu traço, conhecemos seu modo de estar no mundo, lemos sobre momentos-chave de sua vida e o que ele guardou de sua infância e de sua trajetória. Vemos como esse jovem que só começou a falar aos 12 anos (mas que já desenhava muito) se expressa, e o que ele expressa. E é tão bonito.

Nori e Eu Autores: Masanori Ninomiya e Sonia Ninomiya Editora: WMF Martins Fontes (96 págs.; R$ 49,90)

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