Último livro do escritor Eduardo Galeano terá minirrelatos

Autor transitará novamente entre e o realismo e a poesia

PUBLICIDADE

Por Rodrigo Cavalheiro - CORRESPONDENTE
Atualização:

BUENOS AIRES - Em seus últimos meses, Eduardo Galeano concluiu o trabalho que encerrará sua obra literária, um conjunto de minirelatos inéditos que serão publicados com colagens. A informação foi confirmada ao Estado pela sede argentina da editora Siglo XXI, segundo a qual não há título ou data para lançamento. A editora antecipou que as histórias têm personagens históricos e reconhecidos - o que mantém o livro dentro do viés político que permeou sua escrita -, mas apresentam tambémfiguras anônimas, com as quais Galeano costumava exercitar seu senso de observação do cotidiano. O autor, que em seus últimos dias tinha dificuldade para reconhecer algumas pessoas, segundo amigos, transitará novamente entre e o realismo e a poesia. Em maio será publicada na Argentina, no México e na Espanha a coletânea Mujeres, com textos sobre um dos temas favoritos de Galeano, ao lado da política e o futebol - era um torcedor fanático do Nacional de Montevidéu e um fã de Garrincha.

A morte de Galeano teve forte impacto na Argentina Foto: Dida Sampaio/Estadão

A morte de Galeano teve forte impacto na Argentina, onde se exilou de 1973 a 1976. Ajudou a fundar e dirigiu a revista 'Crisis', que se tornaria um símbolo entre a militância de esquerda argentina. O primeiro número da publicação, de 3 de maio de 1973, trazia textos de Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade, assim como de outros ícones da literatura latino-americana. Essa edição está online no arquivo da revista, relançada em 2010. "Ele recebia todos os meses uma edição de cortesia", afirma o atual diretor da revista, Mario Santucho, filho de um guerrilheiro homônimo morto em 1976 pelo Exército. Entre os que conviveram com Galeano em sua passagem por Buenos Aires, ficou a imagem de um jovem que adorava beber enquanto falava de literatura, política e mulheres. "Além adorar uma taça de vinho e falar de política, Galeano tinha fascinação por cabarés que hoje já não existem. Essa paixão pelas mulheres o acompanhou até o fim", disse ao Estado o radialista Marcelo Simon, especialista em música regional argentina que acompanhou Galeano em noitadas no centro da capital argentina. "Falávamos do que ninguém mais falava, da existência de tortura, da falta de liberdade. Ele já tinha escrito As Veias Abertas e parecia seguro do poder de sua palavra. Quando ele chegou por aqui, as pessoas já manifestavam por ele seu amor. Ou seu ódio." O peso de sua obra mais conhecida e a atividade como militante levaram oescritor a entrar na lista dos esquadrões da morte quando começou a ditadura do generalJorge Rafael Videla, em 1976. Galeano, que já havia escapado dos militares uruguaios, foi para a Espanha. Em uma de suas últimas passagens pela Argentina, quando falou de sua última obra publicada, Os Filhos dos Dias, o uruguaio reuniu centenas de jovens em suas palestras na Feira do Livro de Buenos Aires, em 2012. Questionado então se esta seria sua última publicação, em uma entrevista ao canal TN, no programa 'Otro Tema', Galeano garantiu que não, em uma referência à proximidade da morte. "É como quando me perguntam o que espero da minha última ceia. Que seja a penúltima", completou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.