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Suze Rotolo, musa de Bob Dylan, lança livro de memórias

Por PHILI
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Não é fácil conviver com o fato de ter sido musa e amante de qualquer grande artista -- muito menos quando se trata de uma pessoa com status de semideus, como Bob Dylan. Mas é essa a bagagem carregada há quase meio século por Suze Rotolo, que viveu com Dylan nos anos 1960 e foi influência importante sobre a música que ele criou no início de sua carreira. Rotolo quebrou seu silêncio com um livro, "A Freewheelin' Time -- A Memoir of Greenwich Village in the Sixties" (Tempos libertários -- Memórias de Greenwich Village nos Anos 60), lançado pela Broadway Books, um selo da editora Doubleday. "Ele é o elefante que habita o quarto de minha vida", disse Rotolo, que hoje tem 64 anos, falando sobre seu livro e sua vida enquanto tomava chá gelado num restaurante perto do loft em Greenwich Village onde vive com sua família. "Estou contente por ter vindo a público", disse ela, mulher sorridente e de voz doce que trabalha como artista visual. Suze Rotolo ficou famosa nos anos 1960 sem querer, quando a gravadora Columbia Records escolheu uma foto dela andando de braços dados com Bob Dylan numa rua de Greenwich Village recoberta de neve para ser capa de seu segundo álbum, o inovador "The Freewheelin' Bob Dylan". Uma foto quase idêntica, da mesma sessão de fotos, ilustra a capa de seu livro de memórias de quase 400 páginas. O livro conta a história de uma tímida americana de origem italiana, natural de Queens, que atravessou o East River para tentar se encontrar em Greenwich Village. Ela acabou se envolvendo no turbulento cenário musical e do movimento pelos direitos civis do início dos anos 1960. "Achei bom contar essas histórias -- histórias que meu filho pode ler e com as quais pessoas de outras gerações poderão saber como foi aquela época. O que eu quis mostrar é que éramos todos jovens, humanos, nos divertimos e produzimos alguma coisa." CALDEIRÃO CULTURAL Rotolo conheceu Dylan, que se mudara do Minnesota para Nova York, num show em 1961, quando ela tinha 17 anos e ele, 20. Eles se apaixonaram e se tornaram inseparáveis durante os anos em que Dylan transformou-se de cantor folk em porta-voz de uma geração. Os dois viveram juntos num apartamento de dois cômodos na West 4th Street, e o caso de amor e a separação deles inspiraram canções como "Tomorrow Is a Long time", "One Too Many Mornings", "Don't think Twice, It's Alright" e "Boots of Spanish Leather". Terno e turbulento, o relacionamento durou quatro anos. Suze Rotolo cresceu como livre-pensadora, filha de pais operários comunistas que sofreram durante a era McCarthy. Bob Dylan absorveu o ativismo político e a consciência social de Rotolo, que inspiraram algumas de suas primeiras canções pacifistas e anti-racismo. Mas Rotolo não era uma simples groupie. Ela se recusou a ser um mero apêndice dele, ou, em suas palavras, "a sétima corda de seu violão". Sua autobiografia não trata apenas de sua relação com Dylan. O livro faz um retrato divertido de Greenwich Village no início dos anos 1960, escrito por uma participante/observadora privilegiada. O livro inclui fotos pessoais, trechos de cartas trocadas por ela e Dylan, e suas próprias anotações e ilustrações da época. Rotolo não olha para o passado com ressentimento, nem tampouco com saudosismo. Ela acredita que, em suas palavras, a vida continua para aqueles que vivem no presente. "Eu me via como parte de uma história grande e importante. Não é como se estivéssemos todos girando em torno de um deus. Estávamos todos juntos naquela confusão, e ele (Dylan) se tornou alguém importante. Ele estava no meio daquele circo e então se tornou mestre dele."

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