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Sesi-SP Editora deixa de publicar livros 'literários'

Editora vai focar na produção de livros didáticos e paradidáticos

Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

A Sesi-SP Editora não vai mais publicar obras de interesse geral e vai focar apenas em livros didáticos e paradidáticos para as suas próprias escolas. A informação, que circulava na editora desde que a produção diminuiu para então ser congelada e desde que a questão foi levada a reuniões do conselho, foi confirmada agora ao Estadão pela assessoria de imprensa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Livros das editoras Sesi-SP e Senai são encontrados também na livraria do Centro Cultural Fiesp Foto: Everton Amaro

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Nesse período, foi encomendada uma nota técnica interna para justificar, perante o conselho, a decisão de não publicar mais livros de interesse geral. Wilson Risolia, secretário da Educação do Rio de Janeiro, entre 2010 e 2014, nas gestões Sérgio Cabral Filho e Luiz Fernando Pezão, e que chegou à Fiesp com a nova diretoria, no começo do ano, para cuidar de projetos ligados à educação, estava nesta reunião e teria dito que a editora era malgerida, que o estoque era grande e que ela devia se concentrar na publicação de livros didáticos. 

O Sesi é uma entidade sem fins lucrativos.

Risolia então teria pedido a aprovação dos presentes para consolidar esta mudança. Houve outra reunião mais recentemente, em maio, quando o assunto voltou à mesa. Nas duas ocasiões, André Sturm, cineasta, ex-secretário municipal de Cultura e membro do conselho, teria questionado a proposta e pedido mais informações para avaliar melhor, e os ânimos teriam se acirrado.

Procurado pelo Estadão, André Sturm confirmou que se posicionou contra o fim da Sesi-SP Editora em duas reuniões do conselho.

A Editora Sesi-SP tinha, até agora, quatro linhas: os didáticos para o Sesi e Senai, obras de interesse geral, histórias em quadrinhos e livros institucionais. As obras de interesse geral, que incluem os infantis e juvenis, e as HQs renderam, nos últimos anos, muitos prêmios à editora, entre os quais 11 Jabutis desde 2014, 12 prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), mais de 50 selos Altamente Recomendável da FNLIJ e seis selos Cátedra 10 Unesco.

Um desses livros superpremiados é Se Eu Abrir Esta Porta Agora, de Alexandre Rampazzo. Com o fim do contrato de 5 anos e sem interlocução lá dentro, o autor decidiu, recentemente, tirar o livro da editora. Daniel Kondo, que lançou em março No Cangote do Saci, um dos últimos títulos da casa, pediu o distrato de Monstros no Cinema, outro livro que recebeu muitos prêmios. São obras importantes, literárias, que não se encaixam no catálogo de uma editora de livros didáticos. 

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Otimismo e pessimismo

Em 2021, a editora contratou alguns profissionais e o clima era de otimismo. Houve uma reestruturação para que muitos editores se dedicassem aos didáticos. Ao mesmo tempo, foi fortalecido o núcleo dedicado a livros de mercado, de literatura - aqueles que são vendidos em livrarias e feiras de livro e que ganham os prêmios.

A Sesi-SP é herdeira, também, de muitos livros do catálogo da Cosac Naify, doados por Charles Cosac no encerramento da editora. E, no momento, conta com muitos direitos adquiridos e livros prontos à espera de impressão. 

“As demandas do Sesi-SP e do Senai-SP em livros didáticos e paradidáticos respondem por 91% de toda a produção de Sesi-SP Editora e Senai-SP Editora. Com a revisão de conteúdos, decorrente da implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a produção deverá crescer ainda mais. Neste contexto, houve a decisão, aprovada em Conselho Regional, de focalizar nas demandas das duas entidades”, diz a nota ao Estadão.

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Segundo a assessoria da Fiesp, o Sesi-SP tem uma rede de 142 escolas e 97 mil alunos dos quatro anos até o Ensino Médio. Já o Senai-SP oferece cursos de curta e de longa duração e, também de acordo com a entidade, soma quase um milhão de matrículas por ano. Portanto, toda a produção será de “livros didáticos e paradidáticos a serviço da educação”.

Questionados sobre o que acontece agora com estoque e equipe, disseram que eles serão “geridos de forma habitual”. “Os estoques serão utilizados na atualização das bibliotecas das unidades, vendas e doações pertinentes ao trabalho social da indústria de São Paulo”, diz a nota.

Nas últimas semanas, houve demissões e saídas de funcionários, e alguns profissionais foram realocados. Oficialmente, não foram informados das mudanças editoriais.

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A participação da Bienal do Livro de São Paulo, entre os dias 2 e 10 de julho, está confirmada.

Obras gerais e didáticos

Divulgada na última semana, a Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial mostrou que os livros do segmento de obras gerais apresentaram, pelo terceiro ano seguido, um aumento nas vendas e crescimento real de 3%, enquanto os didáticos encolheram 14%. Ter suas próprias escolas, deixa o Sesi de fora dessa crise, mas esta pesquisa e os levantamentos mensais feitos pelo mercado editorial reafirmam a redescoberta da leitura e a procura por livros de interesse geral, sobretudo depois da pandemia.

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