Saramago renova com romance 'A viagem do elefante'

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Por TERESA LARRAZ
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Depois de se recuperar de uma doença que o fez temer por sua vida, o escritor português José Saramago volta com um romance: "A Viagem do Elefante". Aos 86 anos, e dois anos após publicar "As Pequenas Memórias", Saramago lança o que prefere chamar de conto baseado em um fato histórico, no qual há 95 por cento de ficção e 5 por cento de realidade. "É o livro no qual a capacidade inventiva do autor está mais clara", disse o escritor na terça-feira durante o lançamento da obra da Casa de América, em Madri. "É um livro de imaginação constante, para manter desperta a atenção do leitor com algo que historicamente seria insuficiente, tem que inventar algo", acrescentou. Salomão é um elefante que, em meados do século XVI, o rei português João III deu a seu primo, o arquiduque Maximiliano, da Áustria, e teve de percorrer a distância entre Lisboa e Viena. Até aí é a história. A partir desse ponto, Saramago compõe uma obra que pode ser lida como uma metáfora da vida humana, como ele mesmo explicou, mas com "o instrumento de comunicação mais direto com o leitor que é o humor". Quando o elefante morreu, as patas dianteiras foram cortadas para fazer porta guarda-chuvas, colocados em exposição em um palácio da capital austríaca. "Sem esse final, eu não teria nada para escrever o livro", disse o prêmio Nobel de Literatura. "Por que essa humilhação?", perguntou-se. "O que dá o significado último à vida é o que se passa depois da morte", acrescentou. "A viagem do elefante" foi escrito em etapas. A primeira, de fevereiro a junho de 2007. "Não teve mais remédio a não ser parar, o corpo estava mal", disse Saramago. Ao final do ano, apresentou uma crise muito forte, que fez com que o internassem em uma clínica da ilha canária de Lanzarote, onde vive há anos com sua mulher e tradutora, Pilar del Río. O escritor contou que tiveram dúvidas em admiti-lo. "Mas me aceitaram e me salvaram a vida", disse o escritor. O livro foi concluído entre fevereiro e agosto deste ano e essa "experiência tão dura", na qual perdeu 17 quilos, deixou uma marca na obra. "Durante essa enfermidade, houve algo como um tremor de terra que trouxe à superfície sedimentos lingüísticos antigos. Surpreendeu até mesmo o autor, de onde vinha essa expressão, essa palavra que não usava havia anos", disse. Sempre atento à atualidade, Saramago dirigiu algumas palavras para a crise financeira mundial, recordando um artigo recente de sua autoria intitulado "Crime financeiro contra a humanidade". "É um crime contra a humanidade e (os responsáveis) devem ser julgados. Os responsáveis são conhecidos", denunciou. O prolífico autor de "O evangelho segundo Jesus Cristo", "Ensaio sobre a cegueira" e "A Caverna" está preparando seu próximo romance.

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