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Rússia enterra Solzhenitsyn em mosteiro de Moscou

Por AMIE FERRIS-ROTMAN
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A Rússia enterrou na quarta-feira o dissidente da era soviética e escritor Alexander Solzhenitsyn num mosteiro do século 16, depois de uma cerimônia religiosa que teve a presença do presidente Dmitry Medvedev (que suspendeu suas férias para comparecer) e todo o aparato de um funeral de Estado. Centenas de russos idosos foram despedir-se do Prêmio Nobel de Literatura, um homem profundamente religioso, cujo corpo coberto de rosas vermelhas ficou várias horas exposto na cerimônia russa ortodoxa em Moscou. Depois da cerimônia, que teve banda militar e foi transmitida ao vivo pela TV estatal, Solzhenitsyn foi enterrado no pátio do mosteiro de Donskoi. Enquanto os sacerdotes oravam e cantavam hinos, a viúva do escritor, Natalia, seus três filhos e netos choraram em silêncio. Crítico destacado da tirania soviética e dos campos de trabalhos forçados de Josef Stalin, Solzhenitsyn morreu de falência cardíaca em sua casa nos arredores de Moscou, no domingo. Tinha 89 anos. O prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov, o líder do proscrito partido Nacional Bolchevique, Eduard Limonov, diplomatas, membros da elite literária russa e cidadãos comuns seguraram velas douradas e oraram durante a cerimônia. "SERVIU APENAS A DEUS" Durante mais de 20 anos Solzhenitsyn, barbudo veterano da 2a Guerra Mundial que passou oito anos em campos de trabalho forçado por criticar o governo soviético, foi símbolo da resistência intelectual ao governo comunista. Ele atraiu a atenção do mundo após a publicação, em 1962, de "Um Dia na Vida de Ivan Denisovich", em que fez a crônica da vida dos prisioneiros dos campos de trabalho. Em 1974 a União Soviética o destituiu de sua cidadania russa, e ele mudou-se para a Europa e, mais tarde, Estados Unidos. A escritora Ekaterina Markova, sua amiga pessoal, declarou: "Solzhenitsyn serviu apenas a Deus. Não ao governo, à democracia ou mesmo à América. Apenas a Deus -- por isso foi uma pessoa livre." Após o funeral, Medvedev assinou um decreto pedindo às autoridades de Moscou que dêem o nome de Solzhenitsyn a uma rua da capital. O governo pensa em fazer o mesmo na cidade de Rostov-sobre-o-Don, no sul da Rússia, onde o escritor passou sua infância. Solzhenitsyn recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1970 e mais tarde escreveu "O Arquipélago Gulag", uma crônica monumental das experiências dele mesmo e de milhares de outros prisioneiros nos campos de trabalho. Ele só retornou à Rússia após a queda da União Soviética, marcando sua volta com uma longa viagem de trem de Vladivostok, na costa Pacífica, até Moscou. Desde seu retorno, em 1994, foi tratado com grande deferência pelos líderes russos. Nos últimos anos ele passou a criticar cada vez mais a corrupção da Rússia moderna.

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