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Primeiras edições de Machado de Assis compõem exposição para bibliófilos na USP

Biblioteca Brasiliana Mindlin expõe dezenas de livros raros da coleção machadiana, muitos assinados pelo autor

Por Guilherme Sobota
Atualização:

Dezenas de primeiras edições de livros de Machado de Assis – muitas delas assinadas pelo autor – estão na exposição Machado de Assis na BBM – Primeiras Edições e Raridades, com abertura nesta quinta-feira, 27, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na USP. Ela se junta a uma tradição histórica de exposições do trabalho de Machado, como as que ocorreram em 2008, 1968 e 1939 na Biblioteca Nacional, no Rio.

A nova exposição tem curadoria do professor de literatura brasileira da USP Hélio de Seixas Guimarães e reúne 108 itens da machadiana de José Mindlin, hoje com acesso público na biblioteca da universidade. Além dos livros, também estão ali periódicos em que Machado publicou textos esparsos – por exemplo, uma edição da revista O Novo Mundo, editada em Nova York, com o célebre ensaio Instinto de Nacionalidade, de 1873 – e também exemplares de edições póstumas com escritos até então inéditos em livros, correspondências, etc.

Edição de 'Páginas Recolhidas' com dedicatória de Machado de Assis para José Verissimo Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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A ideia da mostra, segundo o curador, é apresentar ao visitante de maneira concreta os modos de constituição da obra de Machado em seus variados suportes e gêneros. Além de poder apontar caminhos de pesquisas e curiosidades de edição.

A exposição ilustra, por exemplo, a história de edições de 1902 das Poesias Completas, publicadas primeiro em 1901 pela Garnier. Em uma das edições, um erro tipográfico troca a letra “e” por “a” na palavra cegara, e a frase de Machado no posfácio fica assim: “...porque a afeição do meu defunto amigo a tal extremo lhe cagara o juízo que viria a ponto reproduzir aqui aquela saudação inicial”. O erro foi corrigido à mão, com nanquim, mas alguns exemplares já estavam em circulação quando a editora detectou o deslize. A exposição tem ambos.

Em uma das primeiras edições de Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado acrescenta uma nota ao fim, reafirmando a ironia do começo do texto em relação ao leitor: “Alguns erros escaparam que a inteligência do leitor suprirá”, escreve antes de apontá-los. “Ele começa e termina o livro falando do leitor, é uma espécie de errata irônica”, diz o curador.

Entre as dedicatórias de Machado nos livros, é possível encontrar nomes como Joaquim Nabuco, ao ator Furtado Coelho (ator e dramaturgo de quem Machado era admirador) e José Veríssimo – a edição do Memorial de Aires, publicado no mesmo ano da morte do escritor, que Machado encaminhou ao crítico, e sobre a qual Veríssimo fez suas considerações, está ali.

É a primeira grande exposição da machadiana da Biblioteca Mindlin, no ano em que são lembrados os 110 anos da morte do autor de Dom Casmurro. Guimarães é também pesquisador associado da BBM, e foi esse trabalho que lhe acendeu a ideia de montar a mostra. “É possível ver como a obra vai ganhando distinção, porque ela começa com livros mais precários, menos cuidados, e aos poucos essa distinção vai se incorporando à figura do Machado e às próprias edições”, explica.

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Ele considera a exposição uma amostra do manancial de estudos que existe com o material. “Aqui há histórias das editoras, da relação de Machado com as casas, algumas histórias do percurso dos livros, do relacionamento entre os bibliófilos, entre outras coisas”, diz. A exposição coloca à disposição em tablets alguns itens digitalizados da coleção. Um catálogo da mostra também deve ser publicado até o fim da exposição, que tem entrada gratuita e fica na USP até o dia 22 de novembro de 2018, na Sala Multiúso da Biblioteca Mindlin.

MACHADO DE ASSIS NA BBM

Biblioteca Brasiliana Mindlin. R. da Biblioteca, 21, Vila Universitária, SP, tel. 2648-0841. 2ª a 6ª, das 8h30 às 17h30. Grátis. 

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