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Coluna semanal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|Por dentro de 100 filmes que nasceram de livros

Obra explora a relação entre cinema e literatura por meio da análise de 100 filmes baseados em livros

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Atualização:

No filme Jules e Jim (no Brasil, Uma Mulher para Dois), François Truffaut adapta o livro homônimo de Henri-Pierre Roché. Elimina personagens e situações do original, mas mantém a rapidez das frases do escritor, o tom muitas vezes brusco, seco. E, mesmo quando oferece contrapontos à história criada por Roché (que pode ser lida numa edição da Zahar, de 2006, acompanhada do roteiro), acaba por iluminá-la (com Jeanne Moreau como inspiração nessa releitura).

Alain Delon em 'O Sol Por Testemunha', adaptação de 'O Talentoso Ripley' feita em 1960 e que viraria outro filme em 2000 Foto: Paris Film

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René Clément, ao adaptar O Talentoso Ripley (Companhia de Bolso, Intrínseca), de Patricia Highsmith, joga fora todo o início do romance. Não por achá-lo menos interessante – mas porque prefere se calar sobre a origem do personagem e descobri-lo de maneira distinta ao longo da trama. Já Mervyn LeRoy segue fielmente o texto e os diálogos de Quo Vadis?, de Henryk Sienkiewicz. Mas o faz não em respeito ao autor e, sim, porque lhe interessa menos retratar os personagens e mais pintar quadros que evoquem a Roma Antiga.

A lista é ampla. E sempre repleta de sutilezas que o livro 100 Filmes: Da Literatura para o Cinema, escrito por um time de críticos, historiadores da arte e acadêmicos dedicados ao cinema, tenta iluminar ao analisar uma variedade enorme de produções, do cinema de arte ao cinema de entretenimento. E enriquecer nossa relação com as obras por meio do mergulho no trabalho de grandes cineastas. 

'Fahrenheit 451', de François Truffautbaseado no livro de Ray Bradbury, é analisado no volume Foto: Anglo Enterprises

Publicado em 2014, vale como leitura para quem se interessa por cinema, literatura e a ligação entre as duas artes e como consulta na hora de escolher o próximo filme para ver ou livro para ler. 

Mas interessa em particular ao mostrar como estabelecer um diálogo entre livros e filmes que nascem a partir deles pode ir além da discussão a respeito da fidelidade ou não ao original – algo que mobiliza os amantes da literatura desde a criação do cinema. São linguagens diferentes, divergências pontuais são naturais. A relação entre elas, como escrevem os autores, vai além da dualidade fidelidade-traição. Isso porque cada gênero tem suas capacidades e limitações. Uma trilha pode “falar” tanto quanto um parágrafo, assim como a não representação visual, no texto, pode possibilitar um exercício de imaginação que a tela restringe naturalmente ao dar concepção visual ao texto.

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E, no final das contas, vem daí o aspecto mais fascinante. Porque nesse jogo somos nós também personagens – com nossas ideias, expectativas, crenças e sensações e como elas se relacionam com livros e filmes que não raro transformam nossa relação com o mundo. 

100 Filmes: Da Literatura Para o Cinema

Apresentação: Henri Mitterand Editora: BestSeller (352 págs.;  R$ 64,95)

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