'Perda imensa para a cultura brasileira': escritores prestam homenagem a Boris Schnaiderman

Velório ocorre nesta quinta, 19, no Centro Universitário Maria Antônia, até 14h; corpo será levado para o Crematório da Vila Alpina

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Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Por Camila Molina e Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Tradutor fundamental da literatura russa no Brasil, Boris Schnaiderman morreu no início da noite de quarta-feira, 18, aos 99 anos, em decorrência de uma pneumonia. Ele estava internado no Hospital Samaritano desde a semana passada, depois de fraturar o fêmur. O velório ocorre nesta quinta, 19, no Centro Universitário Maria Antônia, entre 8h30 e 14h. Após esse horário, o corpo será levado para o Crematório da Vila Alpina.

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Colaborador assíduo do Estado e intelectual muito querido no meio cultural brasileiro, Schnaiderman foi lembrado e recebeu homenagens nas redes e em contatos com a reportagem:

Paulo Bezerra, tradutor:

"O falecimento do Boris é uma perda imensa para a cultura brasileira e irreparável para a divulgação e a recepção da literatura e da cultura russa no Brasil. Boris aliava algumas qualidades indispensáveis no intelectual e ser humano: uma inteligência vibrante, ativa e atenta a tudo o que acontecia ao seu redor; uma erudição ampla, que ele sempre fazia questão de dividir com todos com quem convivia; uma generosidade sem fim aos amigos, colegas, pupilos e a todos aqueles que desejassem privar do seu vasto saber. E, por fim, uma qualidade sem a qual não existe nenhum sábio e intelectual de verdade: a modéstia. Conversar com o Boris era um aprendizado sempre muito prazeroso."

Boris Schnaiderman, agosto de 2015 Foto: CLAYTON DE SOUZA|ESTADAO

Alberto Martins, escritor:

“Me surpreendia muito a modéstia do Boris, ele era muito coerente, muito digno e muito consciente do próprio valor, mas não se deixava levar pelo jogo de elogios. Tinha um silêncio particular e colocou-se existencialmente no lugar do tradutor.”

Augusto de Campos, poeta e tradutor:

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"O Brasil perde um grande intelectual, homem de rara coragem e absoluta integridade ética, o maior difusor da cultura russa em nosso país. Morre, perto dos 100 anos de idade, o querido amigo e companheiro de viagens literárias, meu professor do idioma nos anos 60, supervisor linguístico de inúmeras traduções que fizemos, Haroldo e eu, da moderna poesia russa e de Maiakóvski. Na segunda grande guerra, foi voluntário-pracinha e lutou nas trincheiras da Itália pela democracia. Quem sabe o destino quis poupar-lhea tristeza de assistirao desmoronamento da nossa, abalada por mais um golpe baixo que envergonha o Brasil e os brasileiros conscientes."

Milton Hatoum, escritor:

“Era uma pessoa admirável em todos os sentidos. Foi um grande professor, tradutor e escritor. Acho que ele criou um núcleo de tradução do russo na USP e isso foi importantíssimo. Foi um homem extraordinário. Neste país em que se extingue o Ministério da Cultura, ele nunca foi tão importante.”

Irineu Franco Perpétuo, tradutor e jornalista:

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“Estamos todos órfãos com a perda desse pai fundador. Se o Brasil tem os estudos de russo mais avançados da América Latina, deve-se justamente à presença entre nós dessa figura singular que foi Boris Schnaiderman. Ele constituía para nós um paradigma ético, estético e intelectual. Pessoa calorosa e generosa, de formação abrangente e apetite intelectual pantagruélico, Boris formou, direta ou indiretamente, gerações de tradutores e estudiosos da cultura russa. Tratava-se de um ourives, perfeccionista, a retrabalhar incessantemente suas traduções, sempre em busca da palavra justa, do tom certo, da frase exata. Até o fim, Boris jamais perdeu a centelha criativa, a vontade de aperfeiçoar o que já parecia perfeito, o interesse por tudo que era humano.”

Daniela Moutian, tradutora e editora: 

"Poucos merecem o epíteto de intelectual como Boris Schnaiderman. Um pensador fino e, coisa rara, de ideias próprias. Foi ensaísta, tradutor, escritor. Foi russo, judeu, brasileiro. Foi Púchkin, Tolstói, Maiakóvski. Foi tudo ao mesmo. Esse homem que nasceu no emblemático ano de 1917 não foi embora, não, o professor Boris fica, para sempre."

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