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Ou uma coisa ou outra

Por Fábio Porchat
Atualização:

Durante essa semana, ocorreu uma polêmica com o novo secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio, o pastor Ezequiel Teixeira, que agora já é ex-secretário. Ele tinha suspendido o programa Rio Sem Homofobia, referência no Brasil e no mundo na luta contra o preconceito. Agora, me diga, como seria possível este senhor defender os direitos de alguém que não esteja enquadrado naquilo que determina a igreja evangélica, da qual ele é praticante? Nosso Estado é LAICO. A meu ver, ou você é pastor (padre, imã, pai de santo, etc...) ou é político. Os dois, infelizmente, não dá.  O futuro de um país laico não pode depender das decisões de um ser humano não laico. Você pode crer no que quiser, mas a partir do momento em que prega “a palavra”, digamos assim, está dizendo ao mundo que sua vida é regida por aquela crença, logo, você não consegue separar uma coisa da outra. Como um gay pode se sentir protegido por essa secretaria se a pessoa que toma conta dessa pasta acha que homossexualidade é coisa do demônio, que é errado e que destrói a família?  Como uma mulher pode falar sobre aborto, se quem estaria ali para lhe dar suporte, a acusa de pecadora assassina? Não poderíamos ter no governo alguém com título religioso, porque essa pessoa, antes de me defender, defenderia a sua crença, ou os praticantes daquela crença. Somos todos iguais perante a lei. E quando um católico, por exemplo, utiliza deus, ou as “leis de deus” como argumento para debater qualquer assunto que seja, ele já está intoxicado pela fé.  A religião é uma trava para muitas conversas que precisamos ter para evoluirmos como sociedade. Se alguns querem ficar presos a um livro escrito há quase dois mil anos, que fiquem, mas não me arrastem junto. Alguns dirão que evangélicos, judeus, católicos, enfim, também precisam ter quem defenda seus interesses. Discordo. Antes de ser umbandista, muçulmano ou espírita, você é uma pessoa, portanto, precisa de alguém que defenda o interesse das pessoas. Independentemente de sua fé. Como um padre pode ser governante se é contra o uso de camisinha? Que bem fará ele à população brasileira com essa opinião? Entendo que seja difícil separar as coisas, afinal de contas, a sua vida é regida pela sua religião. Não é possível ser contra o casamento gay e aprovar uma lei que permita a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Colocar o pastor Ezequiel nesse cargo é como pôr o lobo para tomar conta das ovelhas.  Como se não bastassem os preconceitos que a comunidade LGBT sofre diariamente, agora ela não têm nem mais onde buscar proteção. Não quer botar logo um neonazista para tomar conta de qualquer assunto relacionado à comunidade afro, governador? Precisamos debater a questão de chefes religiosos candidatos. Está errado!

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