'O silêncio não existe', afirma compositora Jocy de Oliveira na Flip

Compositora esteve presente na mesa 'Som e Fúria', da Festa Literária Internacional de Paraty

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Por Ubiratan Brasil
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Corriqueiro para a maioria das pessoas, o som é objeto essencial no trabalho da compositora brasileira Jocy de Oliveira e do designer de som português Vasco Pimentel, que se encontraram para a primeira mesa do sábado, 28, da Festa Literária Internacional de Paraty. Intitulada Som e Fúria, a mesa reuniu, de fato, os dois elementos. “A importância da música atual está se perdendo”, disparou Jocy. “A criação de uma música mais elaborada, de requinte, está morrendo no Brasil.”

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A compositora Jocy de Oliveira na Flip 2018 Foto: Walter Craveiro

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Pioneira em obras que reúnem música, teatro, instalações, textos e vídeo, Jocy é autora de trabalhos experimentais, o mais recente é o ainda inédito filme Wasser Gerschrei (Grito da Água), ainda em fase de montagem. Para a plateia de Paraty, foi exibida uma cena, gravada nas ruínas do Cassino da Urca, no Rio de Janeiro. “Na verdade, não considero um filme. Tampouco uma ópera ou um teatro filmado – é uma experiência que vai tomar forma ao entrar na cabeça e na imaginação de cada espectador.”

“Eu só conheci Jocy na semana passada, no Rio, mas descobri que somos como duas metades de uma só pessoa”, comentou Pimentel, que já cuidou dos elementos sonoros de mais de 140 longas. “Enquanto ela trabalha com material de raiz para criar algo novo, eu me aproprio do que já existe para dar uma nova ordenação.”

Assim como a compositora brasileira, Pimentel se sente rodeado por poluição sonora. “O que mais se tem no mundo é som – não podemos fugir dele. Mas quase todo som é ruim. Daí a missão do artista: criar espaços onde o som não é ruim, pois, hoje, a música vem renunciando a si mesma para se associar a uma imagem. É o que vemos em grandes shows, nos quais uma pirotecnia de luzes só existe para completar aquelas batidas sonoras que se repetem.” 

Jocy faz coro. Para ela, na verdade, a percepção do som no espaço está se perdendo. “O silêncio não existe – é uma ilusão. É o que John Cage sempre quis provar. Mesmo fechado em uma câmara, você vai ouvir ao menos o som de seu batimento cardíaco.” Daí a importância, segundo ela, de trabalhos como o de Vasco Pimentel. “Ele ouve o que os outros não conseguem. Vasco não é um sonorizador, mas um compositor que cria a paisagem sonora de um filme”, elogiou.

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