Você já presenciou e já ouviu falar dele, em qualquer evento público relacionado a discussões intelectuais, filosóficas, urbanas ou literárias: o louco de palestra, aquele “sujeito que levanta a mão para perguntar algo absolutamente aleatório”, vai estar lá. O termo foi registrado por Vanessa Barbara – que retorna como colunista ao Estado, estreando na segunda-feira, 11, no Caderno 2 – em um texto publicado na revista piauí em 2010 e que também dá título ao seu livro mais recente, O Louco de Palestra e Outras Crônicas Urbanas, publicado pela Companhia das Letras. Ali dá para ter uma boa ideia do que ela pretende trazer aos leitores em seu espaço semanal.
“Minha coluna vai falar muito de questões urbanas (Zona Norte e Zona Norte expandida, ou seja, o resto da cidade), e também de livros, filmes e atualidades”, explica Vanessa. “Também vou falar de protestos, de questões sociais e de coisas que estão na pauta de quem não sai das ruas e insiste em atrapalhar o trânsito. Serão basicamente crônicas – algumas mais pretensiosas que as outras, às vezes com advérbios demais”, brinca.
Moradora convicta da Zona Norte da capital – no bairro do Mandaqui –, Vanessa Barbara é uma espécie de garota prodígio: em 2003, aos 21 anos, escreveu O Livro Amarelo do Terminal, que cinco anos depois foi lançado pela Cosac Naify com uma edição cuidadosa. Espécie de livro-reportagem-literário e pastiche de história e observação, venceu os prêmios APCA, em 2008, e o Jabuti de Reportagem no ano seguinte. Também em 2008, saiu O Verão do Chibo (Alfaguara), romance escrito em parceria com Emílio Fraia. Ainda naquele ano, ela passou a ser colunista do caderno Metrópole, do Estado, por dois anos. Nos anos seguintes, reforçou seu nome no jornalismo literário brasileiro, ao contribuir regularmente para a revista piauí, para a Folha de S. Paulo e outros veículos. Também lançou um livro infantil, uma HQ e um romance agora exclusivamente de sua lavra: Noites de Alface, de 2013, publicado pela Alfaguara e com contrato para sair em cinco idiomas na Europa.
Em 2013, o jornal americano The New York Times a convidou para escrever um artigo sobre as manifestações de junho. Foi aprovado. Em seguida, Vanessa fez um teste para entrar no time de colunistas internacionais e passou. Hoje, escreve mensalmente para as versões doméstica e internacional do NYT.
“Ainda que seja bastante difícil, gosto horrores de escrever pra lá e sinto a necessidade de abordar assuntos relevantes, de acrescentar novas visões a debates locais, dar visibilidade a problemas nossos”, diz, sobre a experiência periódica na imprensa internacional. “Recebo críticas de brasileiros dizendo que eu não devia falar mal do meu país, não devia abordar nossos problemas lá fora, tipo: ‘roupa suja se lava em casa, você devia se limitar a exaltar a nossa opulenta nação’. Eficiência. Galope. Futuro. Ninguém andando de costas. Talvez eu deva escrever uma coluna só falando sobre a graça e a malemolência da mulher brasileira”, ironiza.
Questionada se os loucos de palestra – que se espalham pelas redes sociais de todo dia – a incomodam, ela diz que não. “Existe louco de comentário de jornal, louco de rede social, louco de tudo. Eu mesma pertenço à subcategoria ‘Louca de Post de Facebook’, pois faço questão de me posicionar sobre os assuntos mais díspares com o furor de quem discursa em cima de um caixote”, exagera Vanessa, que, entre outras características que o leitor vai poder descobrir ao ler suas crônicas a partir de segunda, é entusiasta das reuniões de condomínio, dona de duas tartarugas de água doce, integrante do Grêmio Pan-Americano de Repúdio ao Celular e ativa usuária do transporte público paulistano.
Sobre os loucos, ela conclui: “Acho saudável. A democracia é feita de loucos de palestra e populares exaltados”. Ninguém deve duvidar.