No centenário de Clarice Lispector, veja 10 frases que revelam fragmentos de seu pensamento

Clarice Lispector, uma das principais escritoras brasileiras, é homenageada em seu centenário de nascimento, no dia 10 de dezembro

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Por Ubiratan Brasil
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Uma das mais amadas escritoras brasileiras, Clarice Lispector (1920-1977) deixou uma obra ardente, enigmática e responsável por um movimento ficcional absolutamente novo que ainda desperta paixões. Clarice nasceu na Ucrânia, em 10 de dezembro de 1920. Em comemoração ao centenário da data, diversos eventos estão previstos, entre shows de música, debates com autores, exibição de filmes.

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A estreia oficial de Clarice na literatura aconteceu em 1943, quando, aos 23 anos, ela teve publicado Perto do Coração Selvagem, romance que inaugurou uma nova linguagem nas letras brasileiras, na trilha de Virginia Woolf. Foi o ponto de partida de um estilo que se notabilizou pelo modo anticonvencional de organizar uma narrativa, valendo-se de uma escrita intimista, em que “as personagens não são seres excepcionais, antes são pessoas comuns, vivendo em um mundo, por assim dizer, mágico; mas de uma magia diferente, clariciana, feita de enigmas e perplexidades – uma magia nascida da exacerbação da palavra”, no entender do poeta Ferreira Gullar.

Nascida em Tchechelnik, Ucrânia, Clarice chegou ao Brasil com apenas 2 anos, acompanhada dos pais e duas irmãs, fugindo da guerra civil que assolava seu país. A família passou por Maceio e Recife até se fixar no Rio de Janeiro. Entre 1943 e 1959, período em que esteve casada com o diplomata Maury Gurgel Valente, a escritora o acompanhou em suas missões, vivendo em lugares tão distintos como Belém do Pará, Nápoles (Itália), Berna (Suíça), Torquay (Inglaterra) e Chevy Chase, localidade próxima de Washington (EUA).

As viagens ao lado do marido nem sempre foram proveitosas. Vivendo em uma Europa já desgastada pela 2ª Guerra Mundial, cujo final se aproximava, Clarice e Maury foram obrigados a viver em hotéis e consulados brasileiros durante muitos meses. A impossibilidade de montar sua própria residência e, principalmente, o fato de viver longe das irmãs, com quem manteve uma extremada relação de amor e ternura, fizeram com que Clarice sofresse, prejudicando o próprio trabalho da escrita. Mesmo assim, ela estabeleceu novos parâmetros para a literatura brasileira. Especialmente na relação tempo e espaço. Ainda que colaborasse para jornais e revistas, meios de comunicação que se pautam exclusivamente pela realidade, a escritora utilizou as páginas de imprensa também para suas reflexões.

Clarice Lispector nasceu no dia 10 de dezembro de 1920, na Ucrânia Foto: Acervo Paulo Gurgel Valente

“Sua produção é, a certa altura, chamada por ela mesma de ‘pulsações’, e está pautada pelo questionamento de valores, desconstrução de regras e certezas, movida pelo desejo dramático de narrar aquilo que, no fundo, constata ser inenarrável”, já observou Nádia Battella Gotlib, professora da USP e reconhecida como uma das maiores especialistas na obra de Clarice.

Como diversos outros escritores, também Clarice era obrigada a se desdobrar em outra profissão, notadamente a de jornalista. No início, foram colaborações ocasionais, mas sua fama se estabeleceu no fim dos anos 1960, quando foi convidada a fazer entrevistas para a revista Manchete. E, como se tratava de Clarice, as perguntas, por vezes, eram mais reveladoras que as respostas – ela surpreendia ao fazer questões mais abstratas, estranhas até:  “Qual é a coisa mais importante do mundo?”, “O que é o amor?” e “Qual é a coisa mais importante para uma pessoa como indivíduo?” eram suas favoritas.

Passados 43 anos de sua morte, acontecida em 9 de dezembro de 1977, Clarice continua um enigma – um estimulante enigma. Sua obra ainda inspira criadores a transformar palavras em imagens, ações, sensações, como comprovam os diversos eventos programados para celebrar seu centenário. E é por meio de suas frases que se consegue elaborar um esboço de quem foi essa mulher.

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Veja dez frases, ditas ou escritas, em que Clarice revelou fragmentos de seu pensamento

“Escrevo como se somam três algarismos. A matemática da existência”

“Vivo ‘de ouvido’, vivo de ter ouvido falar”

“Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto.”

“Se uma pessoa fizesse só o que entende, jamais avançaria um passo.”

“Escrevo-te em desordem, bem sei. Mas é como vivo. Eu só trabalho com achados e perdidos.”

“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”

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“Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma.”

“Eu antes tinha querido ser os outros para conhecer o que não era eu. Entendi então que eu já tinha sido os outros e isso era fácil. Minha experiência maior seria ser o outro dos outros: e o outro dos outros era eu.”

“Fique de vez em quando sozinho, senão você será submergido. Até o amor excessivo dos outros pode submergir uma pessoa.”

“Escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos.”

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