04 de fevereiro de 2021 | 08h59
A poeta Maria Lúcia Alvim morreu nesta quarta-feira, 3, em Juiz de Fora, em decorrência de complicações do coronavírus. Ela tinha 88 anos e havia sido intubada no último fim de semana.
Nascida em 4 de outubro de 1932, em Araxá, Minas, ela é irmã dos poetas Francisco Alvim e Maria Ângela Alvim e publicou cinco livros de poemas até os anos 1980: XX Sonetos (1959), Coração Incólume (1968), Pose (1968), Romanceiro de Dona Beja (1979) e A Rosa Malvada (1980).
Em 1989, ela publicou Vivenda, reunindo 30 anos de sua produção poética, e seu livro seguinte, Batendo Pasto, o último, foi lançado no ano passado, pela Relicário Edições. Maria Lúcia Alvim havia dado esses inéditos de 1982 a Paulo Henriques Britto com o pedido de que eles só fossem publicados depois de sua morte, e a edição, 40 anos depois de seu livro anterior, contou com a participação de outros dois poetas: Guilherme Gontijo Flores e Ricardo Domeneck. Houve um grande esforço de convencimento, e, por fim, reconhecimento em vida. Na ocasião, Maria Lúcia deu entrevistas e gravou vídeos lendo seus poemas.
Aquele que um dia fará o meu caixão
Aquele que um dia fará o meu caixão
de antemão tem as medidas:
menina-carapina
surrupiando
Viu crescer, prometer, viu sazonar.
Quando o roxo dos ipês configurou-se
no horizonte
aquele que fará o meu caixão
numa cestinha depôs amor
e morte
Lasca por lasca
fava por fava
fui pedindo, fui rasgando, fui doando
lóbulo mindinho
esses rajados de pele, esses crestados
o estalido da cabiúna
O galo alvorescente
dourou
(Batendo o Pasto, 2020)
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