Mario Vargas Llosa é eleito membro da Academia Francesa

O escritor hispano-peruano é o primeiro autor de língua estrangeira a ingressar na instituição histórica fundada em 1635; ele também é membro da Real Academia Espanhola desde 1994

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Por Agências
Atualização:

PARIS, FRANÇA - A Academia Francesa anunciou nesta quinta-feira, 25,  a eleição do escritor hispano-peruano Mario Vargas Llosa como novo membro, o primeiro autor de língua estrangeira a ingressar na instituição histórica fundada em 1635. 

Mario Vargas Llosa discursa no Palácio Carondelet, em Quito. O escritor hispano-peruano foi eleito membro da Academia Francesa. Foto: RODRIGO BUENDIA / AFP

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Vargas Llosa também é membro da Real Academia Espanhola desde 1994.

Aos 85 anos, sua entrada no templo das letras francesas é ainda mais excepcional, já que desde 2010, as regras são que os candidatos devem ter menos de 75 anos.

Na história da Academia Francesa houveram escritores bilíngues, como o argentino Héctor Bianciotti (1930-2012), que publicou parte de sua obra em espanhol. Mas Vargas Llosa é o primeiro a entrar sem ter escrito diretamente em francês.

Vargas Llosa foi eleito com 18 votos a favor. Ele assume a cadeira deixada vaga por Michel Serres, acadêmico falecido em 2019.

Vargas Llosa, o último sobrevivente do boom latino-americano

O hispano-peruano Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura em 2010, eleito nesta quinta-feira, 25,  membro da Academia Francesa, é o último representante da geração dourada da literatura latino-americana.

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Escritor universal a partir da complexa realidade peruana, Vargas Llosa fez parte do chamado 'boom' latino-americano junto a outros grandes como o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Julio Cortázar e os mexicanos Carlos Fuentes e Juan Rulfo.

Admirado pela sua descrição das realidades sociais em obras-primas da literatura como A Cidade e os Cachorros ou A Festa do Bode, no plano político seus posicionamentos liberais provocaram hostilidade em um meio intelectual que geralmente tende à esquerda.

"Nós latino-americanos somos sonhadores por natureza e temos problemas para diferenciar o mundo real e a ficção. É por isso que temos ótimos músicos, poetas, pintores e escritores, e também governantes tão horríveis e medíocres", disse pouco antes de receber o Nobel em 2010.

Nascido na cidade de Arequipa, no sul do Peru, em 28 de março de 1936 em uma família de classe média, foi educado por sua mãe e seus avós maternos em Cochabamba (Bolívia) e depois no Peru. 

Após seus estudos na Academia Militar de Lima, obteve uma licenciatura em letras e, ainda muito jovem, deu seus primeiros passos no jornalismo.

Se instalou em 1959 em Paris, onde se casou com sua tia Julia Urquidi, 10 anos mais velha, e exerceu várias profissões: tradutor, professor de espanhol e jornalista da Agence France-Presse. 

Anos depois, separou-se de Urquidi e se casou com sua prima-irmã e sobrinha de sua ex-esposa, Patricia Llosa, com quem teve três filhos e cinquenta anos de relação.

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Vargas Llosa se divorciou de Patricia após iniciar em 2015, com quase 80 anos, um romance com uma figura conhecida do mundo madrilenho, Isabel Preysler (ex-esposa do cantor Julio Iglesias).

Sua longa carreira literária decolou em 1959, quando publicou seu primeiro livro de relatos, Os Chefes, com o qual obteve o Prêmio Leopoldo Alas. Depois, ganhou notoriedade com a publicação de A Cidade e Os Cachorros, em 1963, seguida três anos depois por A Casa Verde. Seu prestígio se consolidou com Conversa no Catedral (1969).

Naquela época o autor peruano já afirmava que queria continuar escrevendo até o último dia de sua vida e cumpriu com sua palavra com a publicação de obras como O Herói discreto ou Tempos Ásperos, sobre a agitada história recente da Guatemala, que lhe rendeu o Prêmio Francisco Umbral de Novela.

Com suas obras traduzidas para 30 idiomas, Vargas Llosa foi prestigiado com os prêmios Cervantes, Príncipe de Astúrias das Letras, Biblioteca Breve, o da Crítica Espanhola, o Prêmio Nacional de Novela do Peru e o Rómulo Gallegos.

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