Leila Guerriero mostra seu fascínio pelas pequenas grandes histórias na Flip
Jornalista argentina que participa do festival neste sábado, 29, transforma o triunfo de um desconhecido dançarino em um épico da façanha humana
Por Ubiratan Brasil
Atualização:
PARATY - Em 2009, a jornalista argentina Leila Guerriero descobriu, por meio de uma nota publicada no jornal La Nación, a existência de um concurso de uma dança chamada malambo, na cidade de Laborde, na província de Córdoba. Praticamente desconhecido no resto do país, o malambo leva centenas de pessoas (entre competidores, jurados e aficionados) à região. O evento atraiu sua atenção e, dois anos depois, Leila rumou para Laborde. “Cheguei lá com a intenção inicial de escrever sobre o festival – até descobrir Rodolfo González Alcántara”, conta ela ao Estado, na manhã de ontem, em Paraty, onde vai falar no sábado, 29, sobre esse deslumbramento, na 15.ª Flip.
PUBLICIDADE
A história da descoberta de Rodolfo Alcántara é o que torna o livro Uma História Simples (Record) uma pequena joia. Ali, Leila Guerriero confirma seu talento para narrar a trajetória e pessoas desconhecidas em verdadeiros épicos. Foi assim em Los Suicidas del Fin del Mundo, sobre jovens de 25 anos que misteriosamente deram fim à própria existência, em um ermo povoado petrolífero da Patagônia, e, em especial, nesse Uma História Simples. Alcántara é um jovem simples, enredado em uma rotina pacata e com apenas uma ambição: a de se tornar campeão do Festival Nacional de Malambo de Laborde.
“Eu fazia pesquisas sobre o festival quando, em um determinado dia, vi Rodolfo dançando. Não entendo das regras desse bailado, mas sua desenvoltura me surpreendeu – era alguém alimentado por um fogo interminável, algo que me provocou um fascínio só comparável à primeira vez que vi (o espanhol) Antonio Gades dançar”, conta ela. Tal surpresa é perceptível no livro, que começa com uma descrição daquela região de Córdoba e de como funciona o malambo até o momento da descoberta. “É como se estivesse mostrando um filme, que começa com um plano geral sobre Laborde até a câmera descobrir Rodolfo e passar a focar unicamente seus passos.”
Leila tornou-se conhecida por perfis e crônicas de estilo apurado, construídos após pesquisas exaustivas e sustentados por uma escrita apurada. E, além de narrar as desventuras de seus personagens, ela compartilha com o leitor seus anseios, tornando-o cúmplice com sua narrativa em primeira pessoa.
Os destaques da Flip 2017, que homenageia Lima Barreto
1 / 43Os destaques da Flip 2017, que homenageia Lima Barreto
Flip 2017
A Festa Literária Internacional de Paraty, Flip, de 2017 já foi aberta. Lázaro Ramos deu o pontapé inicial do evento com um tributo a Lima Barreto na ... Foto: Walter CraveiroMais
Flip 2017
Sessão de abertura, 'Lima Barreto: triste visionário', teve Lázaro Ramos num tributo ao escritor, com direção de cena deFelipe Hirsch. Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Biógrafa de Barreto, a escritoraLilia Schwarcz também participou da abertura. Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Lázaro Ramos interpreta os textos de Lima Barreto em meio ao público. Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Público participa da sessão de abertura do evento. Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Igreja da Matriz é palco para o evento deste ano. Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Público espera do lado de fora da Igreja da Matriz. Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Inspirado no mundo de Policarpo Quaresma, o pianista, arranjador e compositor André Mehmari apresenta uma suíte inédita na abertura da Flip. Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
"Central Flipinha" é espaço de leitura para crianças no evento. Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Crianças se divertem com livros no espaço infantil do evento. Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Garota com livro na Central Flipinha. Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Família lê junta no evento. Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Carroça passa em frente ao espaço da Flip em Paraty. Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Com mediação de Luciana Araujo Marques, a mesa 'Arqueologia de um autor' teve a presença deBeatriz Resende, Edimilson de Almeida Pereira e Felipe Bote... Foto: Walter CraveiroMais
Flip 2017
Público acompanha a segunda mesa da Flip, 'Arqueologia de um autor', na Igreja da Matriz Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
A escritora Djaimilia Pereira de Almeida fala durante a mesa 'Pontos de fuga', na Flip 2017, que tem Carol Rodrigues, Natalia Borges Polesso e Josely ... Foto: Walter CraveiroMais
Flip 2017
O mediador Leonardo Tonus e a escritora Carol Rodrigues durante a mesa 3 da Flip, 'Pontos de Fuga' Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Ana Weiss medeia debate com Jacques Fux e Julián Fuks sobre autoficção, imigração, vanguarda e outros temas Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Público acompanha pelo telão a mesa 'Fuks & Fux', na Flip 2017 Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Grace Passô compõe a mesa 'Odi Et Amo', da Flip 2017, que analisa a literatura medieval e a tradição greco-latina Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Os tradutores Frederico Lourenço e Guilherme Gontijo Flores falam sobre mitos, narrativas e história relacionada à tradução greco-latina, com mediação... Foto: Walter CraveiroMais
Flip 2017
A ruandesa Scholastique Mukasonga, que perdeu a família em um genocício, e a brasileira Noemi Jaffe, filha de uma sobrevivente de Auschwitz, na mesa '... Foto: Walter CraveiroMais
Flip 2017
Público acompanhaa mesa deScholastique Mukasonga e Noemi Jaffe, com mediaçã de Anabela Mota Ribeiro Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
A jornalista portuguesa Joana Gorjão Henriques e o ator brasileiro Lázaro Ramos debatem preconceito racial nos países de língua lusófona Foto: Iberê Perissé
Flip 2017
Público participa do debate 'A pele que habito' Foto: Iberê Perissé
Flip 2017
Lázaro Ramos tira 'selfie' com a plateia após a mesa 'A pele que habito' Foto: Iberê Perissé
Flip 2017
O escritor Julián Fuks promove cortejo literário por Paraty na Flip 2017 Foto: Iberê Perissé
Flip 2017
Antonio Arnoni Prado e Luciana Hidalgo discutem a modernidade de Lima Barreto, que antecedeu o movimento modernista no Brasil Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Público lota a Igreja da Matriz em Paraty durante a mesa 'Moderno antes dos modernistas' Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Beatriz Resende,Luiz Antonio Simas e Prisca Agustoni falam sobre locais frequentados por Lima Barreto e seus personagens, traçando um perfil poético e... Foto: Walter CraveiroMais
Flip 2017
Na Flip, Pilar del Rio palestra sobre resistência feminina na cultura Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
O escritor Ricardo Aleixo antecede a mesa 'A contrapelo' na Flip Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
A conversa entre aescritora chilena Diamela Eltit e o documentarista brasileiro Carlos Nader foi mediadapor João Bandeira Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
'Por que escrevo' é o mote da mesa que conta com a autora Deborah Levy e o jornalista William Finnegan, mediada por Ángel Gurría-Quintana Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Edmilson de Almeida Pereira e Prisca Augustoni conversam sobre poesia para crianças Foto: Iberê Perissé
Flip 2017
Público lota a Igreja da Matriz para ouvir sobre personagens singulares da literatura brasileira em mesa composta por Ana Miranda e João José dos Reis Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
O rapper angolano Luaty Beirão participou de uma conversa com Maria Valéria Rezende sobre a escrita como forma de resistência Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Alberto Mussa e Sjón têm como pontos em comum a influência de Borges e a literatura mitológica Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
A jornalista argentina Leila Guerriero explora, com Patrick Deville, os limites entre a ficção e a não ficção Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Patrick Deville, autor do romance'Viva!', fala sobre Trotski nas regiões tropicais Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Ana Miranda e Maria Valéria Rezende participam de conversa em frente ao telão da Flip Foto: Iberê Perissé
Flip 2017
Conceição Evaristo lê seu novo livro 'Becos da Memória' durante mesa da Flip Foto: Walter Craveiro
Flip 2017
Encerramento da Flip 2017 conta com Alberto Mussa,Ana Miranda,Djaimilia Pereira de Almeida,Patrick Deville,Paul Beatty,Scholastique Mukasonga e Willia... Foto: Walter CraveiroMais
É o que se observa em um momento decisivo de Uma História Simples, título inspirado em um filme de David Lynch: aquele em que Leila revela suas dúvidas sobre o mal que poderia causar a Rodolfo ao, involuntariamente, alimentar sua expectativa pela vitória. Afinal, o rapaz não figurava entre os favoritos e seu sucesso seria inesperado. Leila titubeia, entre abandonar a história ou não, até preferir ficar. “Eu teria um belo material mesmo se Rodolfo não vencesse”, conta. “Perguntas não respondidas me atraem muito mais.” Ao final, uma certeza: não apenas o bailarino, mas também o leitor sai ganhador.