A crônica publicada neste domingo, 10, é a centésima escrita pelo historiador Leandro Karnal para o Estado. Uma centena de textos sobre os mais diversos interesses humanos, tratados com erudição e leveza na mesma intensidade. “Tenho pouca preocupação de estar colado ao fato do momento imediatamente”, conta Karnal. “Talvez seja a diferença entre ser jornalista e ser historiador. Já abandonei textos que ficaram muito técnicos sobre mística, sobre arte e sobre a escrita do historiador.”
O tema também só importa se fisgar a atenção do leitor. “Quero provocar sem ofender as pessoas. Quero que elas sorriam ou façam cara de espanto, que pensem, que discordem ou sejam obrigadas e a reavaliar um ponto. Quero que dialoguem mentalmente e para isso evito gritar.”
Karnal preocupa-se também com a ressonância de sua escrita. “As crônicas sobre arte ou música encontram um público muito fiel e sei que minha defesa do ensino de música circulou entre várias orquestras e institutos”, comenta. “Quando escrevi sobre crianças e holocausto, uma sobrevivente de campo de concentração enviou-me um belíssimo e-mail sobre sua infância em Auschwitz. Cada corda que eu toco na lira do mundo atinge um ouvido específico.”
Professor de ética, Clóvis de Barros Filho acredita que somente a crítica madura, a análise profunda e o recuo analítico permitido pela maturidade intelectual fazem a diferença nos textos de Karnal. “Com erudição e inteligência, o professor costura o passado e o presente, permitindo inferências ricas e ganho de lucidez à qualquer interlocutor”, afirma.