John Irving volta a se inspirar na vida real para criar romance

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Por Edward McAllister

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NOVA YORK (Reuters Life!) - John Irving está contando uma história sobre um homem de 165 quilos que encontrou na sauna de seu hotel em Nova York naquela manhã. O homem estava deitado, imóvel. O escritor se aproximou com cautela, temendo o pior, mas ficou aliviado quando o homem começou a roncar.

"Pensei que ele estivesse morto!", conta Irving, rindo.

Esse é um exemplo da narrativa de Irving -- absurda, engraçada, obcecada com a morte --, típica de um escritor que, ao longo de 40 anos de carreira, vem moldando a vida real para criar uma ficção clássica.

Seu 12o romance, "Last Night in Twisted River", acompanha uma dupla que atravessa os Estados Unidos fugindo da polícia. O personagem principal, Danny, confunde a namorada do pai com um urso e a mata com uma frigideira. Pai e filho partem então numa viagem de 50 anos que os leva de New Hampshire a Iowa, Vermont e, finalmente, Ontário, em 2005.

"Este romance ficou em minha cabeça mais tempo que qualquer outro - 20 anos, talvez mais", disse o escritor em entrevista antes de dar uma palestra sobre o livro.

Como em muitos de seus romances, Irving parte de fatos autobiográficos para criar ficção. Danny, por exemplo, cresce e vira um escritor cujo processo de criação se assemelha ao de Irving. Ambos iniciam seus livros com a frase final e então traçam o caminho até o início.

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Baixo e atarracado, Irving lembra mais um lutador de luta livre que um escritor. Depois de morar muitos anos em Nova York, hoje ele vive no Vermont.

Ele diz que o uso da vida real como fonte de inspiração tem servido como terapia para ele. Adolescente, Irving foi iniciado sexualmente por uma amiga na casa dos 20 anos. Em seu romance "Until I Find You," de 2005, Jack Burns é um garoto que é molestado por uma série de mulheres mais velhas.

Do mesmo modo, a ausência do pai biológico em sua infância reaparece como tema em seus livros, especialmente em "O Mundo Segundo Garp", o romance que chamou a atenção do mundo para Irving.

Como em seus livros, Irving passa do engraçado para o sério com facilidade impressionante. Quando fala sobre escrever, ele é descontraído e a conversa flui, mas seu rosto fica sombrio quando o assunto é política ou a situação dos Estados Unidos.

Ele tem um relação gélida com seu país, insatisfeito com a postura do governo no exterior, desde o Vietnã até o Iraque. Mas optou por continuar vivendo nos EUA.

Esse atrito fez dele um dos maiores e mais amados escritores norte-americanos. Ele pode não se sentir em casa nos Estados Unidos, mas, numa noite chuvosa de outubro em Manhattan, a fila de fãs que aguardava para ouvi-lo falar de seu novo livro dava a volta no quarteirão.

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